30 abril 2007

Polyphrenia


Jean Houston coined the phrase "polyphrenia" to describe a high-functioning, multi-leveled consciousness that is well-organized and synergistic within its levels. At my best I am a community of awarenesses, each patiently (and urgently) waiting for its turn to express something.

Criei o nome do site a partir do neologismo multiphrenia, de autoria de Kenneth Gergen, e que tem o mesmo significado de polyphrenia. A mudança se deu por conta da coerência etimológica, uma vez que multi provem do latim, e poli do grego, assim como phrenus. Assim, o sentido de polyphrenia é o de uma mente múltipla, tal como, muito tempo depois, descobri em algum lugar da net, a palavra atribuída a outra pessoa (ver citação acima). As idéias são como anjos, dizia García Marquez, estão voando por aí...

28 abril 2007

Yourcenar



Nada me define: meus vícios e minhas virtudes são insuficientes para tanto; minha felicidade talvez o faça melhor, embora por intervalos, sem continuidade e, sobretudo, sem motivo aceitável. O espírito humano, porém, reluta em se aceitar como obra do acaso e a não ser senão o produto fortuito do imprevisto, ao qual nenhum deus preside, nem mesmo ele próprio.

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano


27 abril 2007

Pessoa

Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo
Seja eu os meus pedaços
Impreciso e diverso

FERNANDO PESSOA


Retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros.


26 abril 2007

sempre Rosa

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.
JOÃO GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão: Veredas

Rosa, descobrindo veredas, em foto publicada no site do Projeto Manuelzão, que vale a pena ser visitado.

mais Rosa aqui e aqui


24 abril 2007

Ken chan



Fotos de meu amigo Ken Kobashi


Sobre linhas & redes

Ainda a propósito do tema tratado no post abaixo: publiquei na edição 11 do jornal Floripa Total (link ao lado), em novembro de 2005, um texto no qual já antecipava algumas idéias (ou pelo menos, alguns pressupostos) que viria a encontrar nos dois livros que resenho no post anterior. Considerei interessante reproduzir aqui o artigo, para quem se interessar mais sobre o tema:

Vivem me perguntando: “qual é a sua linha?” Aliás, esta é uma pergunta que os psiquiatras e psicólogos têm de responder o tempo todo. Há que se ter uma linha, fazer parte de uma escola, nem que seja pra ter uma resposta para os curiosos... Na verdade, vulgarizou-se o conceito de que existem diferentes abordagens terapêuticas, e que algumas são inclusive incompatíveis entre si. Os freudianos não são junguianos, e estes não são lacanianos, que por sua vez não gostam dos kleinianos, e nenhum destes haveria de gostar dos cognitivistas que, podem até se entender com os sistêmicos, mas se dão melhor ainda com os psiquiatras, e não sei mais o quê...
Vou aproveitar esta oportunidade pra esclarecer duas coisas: a primeira é que sou filho (e trago isto no nome) de meus pais, e isto já me basta! Portanto, não esperem me ver afiliado a qualquer outra coisa, como partidos políticos, igrejas, ou outras organizações que requeiram comprometimento com dogmas teóricos ou ideológicos. A segunda, que é conseqüência do que acabo de dizer, é que não tenho “linha”! Eu prefiro andar fora da linha mesmo... (salvo, é importante que se ressalve, a linha da conduta ética e do respeito ao próximo).
Na verdade, dizer-se freudiano ou gestáltico pouco informa a quem pergunta. As diferenças, para quem vê de fora, são às vezes tão sutis que pouca ou nenhuma diferença fazem. Até porque praticamente não há como ser psicoterapeuta sem ser “freudiano”, uma vez que foi Freud quem pela primeira deu um arcabouço teórico e forneceu uma sistematização técnica para a psicoterapia. Assim, quer queiramos – ou saibamos – ou não, somos todos freudianos! O que existe de fato são diferentes formações pelas quais cada terapeuta passa.
Eu, por exemplo, além de ser psiquiatra e especialista em saúde pública, fiz uma formação em psicoterapia de orientação psicanalítica, e depois outra, em terapia familiar sistêmica. Junte-se a isto um mestrado em psicologia e um doutorado em ciências humanas, e você talvez tenha (apenas) alguns indicadores do tipo de psicoterapia que eu pratico. E assim é com todo mundo! O que existe mesmo, nada mais é do que “a psicoterapia que cada um pratica”.
Ao invés de linhas, eu prefiro pensar em redes. O conceito de rede está mesmo em voga, já que se diz que estamos vivendo numa sociedade de redes, que as organizações verticais dão lugar às organizações em rede, e que o fenômeno cultural – de amplas implicações econômicas – de maior importância na nossa era é a Internet: a rede mundial de computadores. Pois eu prefiro pensar que a terapia que faço é um terapia de rede: uma rede tecida com todas as linhas (psicológicas, ideológicas, científicas, etc.) que influenciaram a minha formação pessoal e a minha experiência profissional.
Faço terapia de rede também porque só consigo pensar as pessoas em seus contextos de relação, no interior de suas redes sociais. Isto pode ou não significar a inclusão de outras pessoas em algum momento de uma terapia individual, ou mesmo sugerir uma terapia de casal ou família. Cada terapia é um encontro único, entre o psicoterapeuta e uma pessoa com história, personalidade, necessidades e recursos diferentes.
Desde que o profissional tenha um bom treinamento e alguma experiência, ele haverá de identificar quais são os limites e as possibilidades de cada caso, e em cada momento de uma mesma terapia, e a melhor estratégia terapêutica. É a estratégia terapêutica que nos vai sugerir variações quanto ao número de sessões; quanto à atitude do terapeuta, no sentido de ser mais ou menos ativo; quanto a ser uma terapia mais ou menos diretiva, mais centrada no apoio, no esclarecimento e na orientação, ou, por outro lado, mais voltada ao descobrimento interior (o insight) por parte do próprio paciente, com o terapeuta “apenas” tendo a função de ser um formulador de boas perguntas...
O ser humano é por demais complexo para que uma única “linha”, ou seja, um único modelo, dê conta de abarcar todos os aspectos da vida mental e emocional. Por outro lado, é claro que não se pode aspirar a resolver tudo ao mesmo tempo: isto seria onipotência do terapeuta. O ideal é que, estando bem alicerçado no seu treinamento e em sua experiência profissional, o terapeuta possa combinar os recursos necessários para a compreensão dos dinamismos internos (em geral inconscientes); dos jogos relacionais (especialmente daqueles que ocorrem no contexto familiar); dos aprendizados e das respostas automáticas, muitas vezes disfuncionais; das forças da cultura (no sentido daquilo que é ou deixa de ser normal em cada diferente meio social); assim como das predisposições genéticas e constitucionais de cada indivíduo.
Não parece pouco... e tampouco é!!! Portanto, quando estiver procurando um psicoterapeuta, mais importante do que saber qual a linha, tente descobrir quem é ele, qual a sua formação profissional, como foram as experiências de outros pacientes. É só assim que você vai encontrar – e nem sempre é da primeira vez – alguém cuja terapia seja aquela que você está precisando. Boa sorte!

post correlato sobre interdisciplinaridade

23 abril 2007

Para terapeutas e pacientes


Dois excelentes livros sobre psicoterapia chegaram ao mercado editorial brasileiro no ano passado. Ambos foram escritos numa linguagem acessível tanto a especialistas quanto a leigos. Assim, são uma boa maneira de se iniciar nos mistérios da atividade psicoterápica, ou de fazer uma idéia melhor do que ela seja, antes de se aventurar como paciente. Para os terapeutas iniciantes, estes livros são uma boa oportunidade de conhecer os segredos de profissionais experientes, e para os mais experientes, uma boa oportunidade de repensar suas próprias práticas.

Irvin Yalom é o autor dos best-sellers Quando Nietzche chorou e A cura de Shopenhauer. Experiente psiquiatra e psicanalista, tem como característica a flexibilidade nas suas atitudes, e atribui enorme importância à contra-transferência, ou seja, ao adequado uso dos sentimentos e das intuições que o paciente desperta no terapeuta. Ele não teme revelar - com o devido cuidado - aspectos de sua vida, quando considera que isto possa ser útil, e sobretudo seus estados afetivos provocados pelas atitudes dos pacientes, permitindo a investigação no "aqui-e-agora" da sessão, de padrões que se repetem nas interações dos pacientes em sua vida "lá fora". Neste Os desafios da terapia, Yalom discorre, com elegância e sem se valer em nenhum momento dos jargões profissionais, vários outros aspectos do encontro terapêutico, como as peculiaridades de lidar com determinados temas (a morte, por exemplo), e a maneira de comunicar as próprias impressões aos pacientes. Para tanto, ele ilustra a discussão com vinhetas de casos clínicos extraídos de sua experiência como terapeuta e supervisor de outros terapeutas.

Os porcos-espinhos de Schopenhauer foi escrito por Deborah Luepnitz, também uma professora de psiquiatria e psicoterapia norte-americana. O curioso título remete a uma fábula do filósofo alemão, conhecida e mencionada por Freud, que relata o dilema de um grupo de porcos-espinhos num dia frio de inverno, entre se aproximarem para não congelar, e se afastarem para evitar os espinhos. Uma vez que este dilema é o mesmo vivido por muitas pessoas, a autora parte dele para fazer o relato bastante detalhado de cinco histórias de terapia. São cinco casos clínicos, dentre os quais uma terapia de casal, uma de família e três individuais, através dos quais Luepnitz ilustra as bases teóricas já expostas em linhas gerais na introdução.

O que há em comum entre Yalom e Luepnitz (além, é claro, do óbvio interesse por Schopenhauer) é a atitude frente ao conhecimento e ao paciente. Ambos comungam da visão do psicanalista francês Serge Laclaire de que "a psicanálise tem que ser reinventada para cada paciente". E ambos parecem claramente cientes de que nenhum conhecimento isoladamente pode dar conta da complexidade da condição humana. A conseqüência desta premissa é de que o caminho para acessar a subjetividade de cada pessoa pode ser diferente, ou então, de que vários caminhos podem ser igualmente úteis.

Muito antes desses dois autores, o terapeuta argentino Hector Fiorini - igualmente de formação psicanalítica - já dizia que, entre os eixos de construção de um psicoterapeuta, deve estar a experiência com várias técnicas terapêuticas. É como se observar um objeto de um só ângulo, ou de vários. Você pode preferir uma determinada perspectiva, mas ter em mente as demais amplia grandemente a apreciação do seu objeto. Yalom sugere a complementação da terapia individual com a terapia de grupo, além de ter vivenciado ele próprio, como confessa, experiências terapêuticas de vários matizes teóricos. Luepnitz, por exemplo, é capaz de articular as contribuições de psicanalistas de escolas diferentes, como Winnicott e Lacan, e, mais do que isto, a compreensão psicanalítica (o que acontece na pessoa, no intrapsíquico, ou seja, no "interior" da mente) com a abordagem sistêmica, familiar (o que acontece entre as pessoas e, principalmente, nos grupos familiares).

O que há em comum entre Yalom e Luepnitz é a busca por compreender o que acontece sob diferentes perspectivas, e por fazer opções particulares, frente a cada situação. As razões para essas opoções, e os seus resultados, esses autores tiveram a coragem de expor nesses dois intrigantes livros.


20 abril 2007

19 abril 2007

A ciência do papa

Na falta de mais tempo e criatividade para escrever, reproduzo aqui o artigo que encontrei no blog do MaGenCo, sobre recentes declarações do ilustre papa, em vias de chegar nas bandas de cá, onde consegue fazer tanto sucesso, apesar de sua absoluta falta de carisma...


O papa no traço de Baptistão
UMA ROUPINHA MELHOR PRO PAPA

Ora, ora, temos que Sua Santidade escreve um livro por nome Jesus de Nazaré, afirmando que a evolução não pode, em certos aspectos e momentos, ser provada em laboratório (verdade que Jesus de Nazaré, que empresta o nome à obra, tampouco o pode - e em momento ou aspecto algum).
A conclusão, creio, seria de que, em não sendo provado o evolucionismo, restaria automaticamente provado o criacionismo, usando-se a chamada prova negativa, ou ilação inversa. Seja: em não se provando a existência dos canhotos, prova-se, ipso facto, a existência dos ornitorrincos. "Ora, mas sendo assim, vale tudo, e podemos, sem prejuízo, entregar nossas inteligências aos bons cuidados dos nossos vasos sanitários".
Existência não se prova através de não, mas através de sim. Há, na comprovação do evolucionismo, um corpo suficientemente robusto de "sim" para que, sem violação ao implacável rigor do método científico, seja heuristicamente lícito preencherem-se algumas pequenas e eventuais lacunas através da ilação. Ou, no mínimo, construírem-se a respeito teses epistemologicamente consistentes, à espera de comprovação, ou revisão.
Onde nada disso há é no sistema de crenças do Papa, 100% baseado na Fé, e não nos laboratórios — que reduzem a pó de traque praticamente tudo o que na Bíblia se afirma.
A Fé é, sim, respeitável. A Ciência é, sim, respeitável. A inteligência do sapiens, e o pensamento que dela emana, é sim, respeitável. O Homem é respeitável.
O que Sua Santidade podia fazer, para o bem de todos e a respeitabilidade geral da espécie, era parar de ficar pagando mico na TV, falando besteira à toa, sem sequer ter sido provocado. Também podia arrumar umas roupas mais decentes (quem sabe um outro Grande Líder Religioso emprestava-lhe umas gravatas...), que aquele longo de Mamãe Noel realmente não tá com muita coisa.
Se avexe, homem, ou, como se diz na Bahia, "se assunte!".

Marco Antonio Arantes, Doctor Eclesiae

16 abril 2007

kurosawa



Estou devendo há muito tempo um post sobre o cineasta Akira Kurosawa, um de meus preferidos. Uma visita ao blog Kerala Articles (links abaixo) me impulsionou a fazê-lo agora, já que, nesta data, há nele um excelente post sobre o épico Kagemusha.
Este filme, que foi co-produzido por Francis Coppola e George Lucas, é um dos clássicos do cineasta japonês falecido em 1998, e realizador, entre outros, de Os Sete Samurais, Derzu Uzala, Ran e Sonhos.

Kagemusha conta a história de um ladrão condenado à morte, que se salva graças à enorme semelhança com o líder do clan Takeda, Shingen. Assim que este falece, o ladrão toma a lugar do comandante, e daí vem o título Kagemusha (em japonês: dublê ou sombra).
Este filme serviu de preparação para outro épico, Ran, que igualmente trata da guerra e das disputas entre clãs no Japão medieval, no qual Kurosawa fez uma adapatação da tragédia do Rei Lear, de Shakespeare.

Tanto em Kagemusha quanto em Ran o genial diretor japonês, que costumava desenhar previamente todas as cenas em detalhes, deixa à mostra a densidade poética de sua obra, valendo-se de interpolações de fantasias e realidade, cores abundantes e uma reconstituição primorosa de cenários e vestuários. As cenas de guerra merecem uma atenção especial.

mais sobre kagemusha

mais sobre ran

Tangos 2


Dois gênios do tango, no traço de Sócrates (cartões postais).

Tangos 1


Clique aqui para ir ao blog do João David e ouvir cinco interpretações de tango do guitarrista argentino Juango Dominguez.

14 abril 2007

Krishnamurti



Desenho feito com lápis sobre papel, de 1974. Trata-se do retrato de Krishnamurti, feito a partir de uma foto do filósofo quando jovem. Estive interessado em suas idéias quando era ainda adolescente. Abaixo, algumas informações sobre ele:

Jiddu Krishnamurti nasceu na Índia em 1895, e a partir dos treze anos de idade passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava o veículo para o "Instrutor do Mundo", cujo advento proclamavam. Krishnamurti logo emergiu como um poderoso, descompromissado e inclassificável instrutor, cujas palestras e escritos não estavam vinculadas a nenhuma religião específica, não sendo do Oriente nem do Ocidente, mas para o mundo todo. Repudiando com firmeza a imagem messiânica, em 1929 dissolveu dramaticamente a grande e rica organização que havia sido criada à sua volta, e declarou ser a verdade "uma terra sem caminhos", à qual nenhuma religião formalizada, filosofia ou seita daria acesso. (mais)


JAZZ


Depoimento de Cassandra Wilson, jazz singer, no último episódio da série JAZZ, realizada por Ken Burns. Trata-se de um EXCELENTE documentário sobre a história do jazz, de seus primordios até os dias atuais. A série, em doze episódios, foi apresentada no canal GNT, e deu origem a um DVD duplo, da Som Livre. Aqui, Cassandra Wilson presta um tributo às gerações anteriores.

I believe that you can communicate tragedy by learning the lesson from someone else's tragedy. I think that's the whole point. From these people who have already done this for us, our predecessors: they've lived this life, they've done the drugs, they've done all these things. And I think the point of it is that we now benefit from that, and we sat on their shoulders. And we have the responsability of extending the music, we have the responsability of pushing the music into the 21st. century.