Há um crescente interesse nos meios científicos e culturais quanto aos impactos que a Internet pode provocar sobre as pessoas, especialmente sobre o pensamento e as funções cognitivas como aprendizagem, memória, associação e dedução. Refletindo esta preocupação, a Edge Foundation, que mantém um fórum internacional no qual propõe anualmente um tema a um grupo de especialistas, formulou para 2010 a seguinte pergunta: "Como a Internet está mudando seu modo de pensar?".
A multiplicidade de respostas publicadas revela bem o quanto ainda estamos perplexos diante desse fenômeno sem precedentes, e quão pouco sabemos sobre as suas conseqüências. Se num extremo há aqueles que falam de uma nova epistemologia que modifica radicalmente a nossa forma de pensar, como quer John Brockman, o empresário cultural que criou a Edge, no outro há quem veja a Internet apenas como um grande depósito de informações. Ninguém, entretanto, minimiza o seu impacto sobre a cultura e a política.
Brockman, confirmando o que se pode antever na própria questão, defende a idéia de que a Internet muda a nossa maneira habitual de pensar, rompe com o compartilhamento de saberes, e leva ao surgimento de um novo “consciente coletivo”. Seu ponto de vista é fortemente influenciado por vertentes epistemológicas como a teoria da comunicação, a cibernética e a teoria geral dos sistemas, que na década de 60 desempenharam importante papel no nascimento do movimento sistêmico. Nessa perspectiva, a mente não é entendida como um tipo de “caixa preta” localizada no cérebro, mas como um conjunto de operações e instrumentos através dos quais nos comunicamos com o mundo externo. Uma mente que é “socializada” por definição e, portanto, sujeita a ser redesenhada pela Internet.
Há quem simplesmente refute a tese da pergunta. O psicólogo cognitivista de Harvard, Steven Pinker, afirma que embora tenha facilitado o acesso e a forma de organização material da informação a Internet não muda a forma como esta é processada e utilizada. Além disso, argumentam os defensores desta posição, as duas décadas de existência da Internet seriam muito pouco tempo para modificar processos forjados pela evolução ao longo de milhares de anos. Há quem inclusive atribua ao celular maior impacto no cotidiano das pessoas do que à Internet.
O biólogo evolucionista Richard Dawkins enxerga na net alguns problemas, como as falsas informações, a tendência a se ficar “borboleteando” de tópico em tópico sem aprofundamento, e o potencial risco de causar dependência. No entanto, segundo ele, podemos pelo menos ter esperança de que a difusão da Internet no futuro venha “acelerar a tão esperada queda dos aiatolás, mulás, Papas, televangelistas, e todos os que exercem o poder através do controle (seja mal intencionado ou sincero) de mentes ingênuas”.
Vários outros autores assinalam entre as conseqüências potencialmente perigosas da Internet a capacidade de induzir a superficialidade, a credulidade e a distração e de condicionar as pessoas a um modo de fazer escolhas influenciado pela simplificidade dos cliques de mouse. O conhecimento se reproduz e se cria numa profusão nunca antes vista, e a possibilidade de acesso a ele cria soluções e problemas. Queremos saber mais sobre tudo, e geralmente ficamos com pedaços de informação pré-digeridas e fragmentadas. A Internet estaria também levando ao desaparecimento da capacidade de introspecção e retrospecção, e a uma tendência a vivermos nossas vidas num aqui-e-agora permanente. Acomodamo-nos diante da informação facilmente obtida na net, que nos satisfaz as necessidades mais imediatas, e vamos nos desacostumando a buscar nas experiências passadas e na reflexão aprofundada as respostas para nossa vida.
O filósofo Thomas Metzinger vai mais longe: para ele, a Internet não está apenas mudando o nosso jeito de pensar, mas já se tornou parte do próprio modelo de identidade. Não apenas ela é utilizada como “prótese cognitiva” e como um instrumento para “a auto-regulação emocional” (como ocorre nas comunidades virtuais), mas, na medida em que muda nossa atenção e nossa consciência, ela também molda um novo jeito de ser. Aqueles que usam regularmente a Internet, argumenta Metzinger, estão imersos numa “vasta e confusa selva midiática” na qual se perde a capacidade de introspecção, e com ela, a de entrar em contato consigo mesmo e de manter um sólido senso de identidade.
Não há dúvidas de que não se pode separar os eventuais efeitos cognitivos da Internet de outras repercussões sistêmicas sobre a cultura, em seu sentido mais amplo. Dado o seu assustador crescimento e a sua penetração profunda no cotidiano das pessoas, estamos muito atrasados na compreensão da sua importância e de seus impactos, para o bem ou para o mal.
A multiplicidade de respostas publicadas revela bem o quanto ainda estamos perplexos diante desse fenômeno sem precedentes, e quão pouco sabemos sobre as suas conseqüências. Se num extremo há aqueles que falam de uma nova epistemologia que modifica radicalmente a nossa forma de pensar, como quer John Brockman, o empresário cultural que criou a Edge, no outro há quem veja a Internet apenas como um grande depósito de informações. Ninguém, entretanto, minimiza o seu impacto sobre a cultura e a política.
Brockman, confirmando o que se pode antever na própria questão, defende a idéia de que a Internet muda a nossa maneira habitual de pensar, rompe com o compartilhamento de saberes, e leva ao surgimento de um novo “consciente coletivo”. Seu ponto de vista é fortemente influenciado por vertentes epistemológicas como a teoria da comunicação, a cibernética e a teoria geral dos sistemas, que na década de 60 desempenharam importante papel no nascimento do movimento sistêmico. Nessa perspectiva, a mente não é entendida como um tipo de “caixa preta” localizada no cérebro, mas como um conjunto de operações e instrumentos através dos quais nos comunicamos com o mundo externo. Uma mente que é “socializada” por definição e, portanto, sujeita a ser redesenhada pela Internet.
Há quem simplesmente refute a tese da pergunta. O psicólogo cognitivista de Harvard, Steven Pinker, afirma que embora tenha facilitado o acesso e a forma de organização material da informação a Internet não muda a forma como esta é processada e utilizada. Além disso, argumentam os defensores desta posição, as duas décadas de existência da Internet seriam muito pouco tempo para modificar processos forjados pela evolução ao longo de milhares de anos. Há quem inclusive atribua ao celular maior impacto no cotidiano das pessoas do que à Internet.
O biólogo evolucionista Richard Dawkins enxerga na net alguns problemas, como as falsas informações, a tendência a se ficar “borboleteando” de tópico em tópico sem aprofundamento, e o potencial risco de causar dependência. No entanto, segundo ele, podemos pelo menos ter esperança de que a difusão da Internet no futuro venha “acelerar a tão esperada queda dos aiatolás, mulás, Papas, televangelistas, e todos os que exercem o poder através do controle (seja mal intencionado ou sincero) de mentes ingênuas”.
Vários outros autores assinalam entre as conseqüências potencialmente perigosas da Internet a capacidade de induzir a superficialidade, a credulidade e a distração e de condicionar as pessoas a um modo de fazer escolhas influenciado pela simplificidade dos cliques de mouse. O conhecimento se reproduz e se cria numa profusão nunca antes vista, e a possibilidade de acesso a ele cria soluções e problemas. Queremos saber mais sobre tudo, e geralmente ficamos com pedaços de informação pré-digeridas e fragmentadas. A Internet estaria também levando ao desaparecimento da capacidade de introspecção e retrospecção, e a uma tendência a vivermos nossas vidas num aqui-e-agora permanente. Acomodamo-nos diante da informação facilmente obtida na net, que nos satisfaz as necessidades mais imediatas, e vamos nos desacostumando a buscar nas experiências passadas e na reflexão aprofundada as respostas para nossa vida.
O filósofo Thomas Metzinger vai mais longe: para ele, a Internet não está apenas mudando o nosso jeito de pensar, mas já se tornou parte do próprio modelo de identidade. Não apenas ela é utilizada como “prótese cognitiva” e como um instrumento para “a auto-regulação emocional” (como ocorre nas comunidades virtuais), mas, na medida em que muda nossa atenção e nossa consciência, ela também molda um novo jeito de ser. Aqueles que usam regularmente a Internet, argumenta Metzinger, estão imersos numa “vasta e confusa selva midiática” na qual se perde a capacidade de introspecção, e com ela, a de entrar em contato consigo mesmo e de manter um sólido senso de identidade.
Não há dúvidas de que não se pode separar os eventuais efeitos cognitivos da Internet de outras repercussões sistêmicas sobre a cultura, em seu sentido mais amplo. Dado o seu assustador crescimento e a sua penetração profunda no cotidiano das pessoas, estamos muito atrasados na compreensão da sua importância e de seus impactos, para o bem ou para o mal.
(continua aqui)