29 julho 2011

dilemas da identidade


Na medida em que a tradição perde a força como fonte de conhecimentos, de modelos e regras, aumenta a reflexividade, já que tudo precisa ser pensado, ponderado e avaliado antes que as escolhas sejam feitas. Assim, as pessoas tendem a se sentir cada vez mais inadequadas, ao não saberem se as opções que fazem são “certas”, “saudáveis” ou “politicamente corretas”. O mais grave de tudo é que as dúvidas estendem-se inclusive sobre a representação que cada um constrói sobre si mesmo ao longo da vida, ameaçando a sua segurança ontológica: a segurança de sabermos quem somos, o que pensamos, como agimos, e assim por diante.

Trecho de Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea. Lançamento em breve pela Editora Unisul.


02 julho 2011

dilemas (2)


É falsa a crença de que o ser humano é por natureza solitário e egoísta, que encontra defensores ilustres, entre os quais Shopenhauer, que afirmam que o homem só busca o outro, ou só nutre uma amizade, por puro interesse egoísta. Tal concepção leva à conclusão de que viver em sociedade, e ter a necessidade de reconhecimento e de afeto de outros, é um distanciamento da verdadeira natureza humana. O ser humano deveria, nessa perspectiva, ser capaz de viver de maneira auto-suficiente e autárquica, e não depender da opinião alheia para a manutenção de sua auto-estima.

Ao contrário, como bem lembra Todorov em seu A vida em comum, não existe tal passagem da vida solitária à sociabilidade, pois esta precede o indivíduo. Os seres humanos “não vivem em sociedade por interesse ou por virtude ou por força de qualquer outra razão; assim o fazem, pois não há para eles qualquer outra forma de existência possível".


Trecho do meu livro Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea, com lançamento previsto para agosto, pela Editora Unisul.