É falsa a crença de que o ser humano é por natureza solitário e egoísta, que encontra defensores ilustres, entre os quais Shopenhauer, que afirmam que o homem só busca o outro, ou só nutre uma amizade, por puro interesse egoísta. Tal concepção leva à conclusão de que viver em sociedade, e ter a necessidade de reconhecimento e de afeto de outros, é um distanciamento da verdadeira natureza humana. O ser humano deveria, nessa perspectiva, ser capaz de viver de maneira auto-suficiente e autárquica, e não depender da opinião alheia para a manutenção de sua auto-estima.
Ao contrário, como bem lembra Todorov em seu A vida em comum, não existe tal passagem da vida solitária à sociabilidade, pois esta precede o indivíduo. Os seres humanos “não vivem em sociedade por interesse ou por virtude ou por força de qualquer outra razão; assim o fazem, pois não há para eles qualquer outra forma de existência possível".
Trecho do meu livro Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea, com lançamento previsto para agosto, pela Editora Unisul.
Um comentário:
A afirmação final até dói ao ler :)
Sou daqueles que necessito de "sozinhez" (ficar só comigo própria)... porém, nada faz sentido, se não tenho a "vida social" para retornar e revalidar minha solidão.
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