11 novembro 2011

os outros que somos




NUNCA antes, em sua breve história, a humanidade vivenciou mudanças tecnológicas e culturais tão rápidas e dramáticas; e nunca antes esteve o ser humano exposto a tantas – e tão desencontradas – informações e influências culturais. Quais as consequências disso para a sociedade como um todo, e para cada indivíduo? Há aí um risco para o senso de identidade e segurança emocional, ou para a saúde mental dos indivíduos que viajam rumo ao desconhecido nesta grande espaçonave Terra?

É disto que trata Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea, livro de estréia do médico psiquiatra e psicoterapeuta Ercy Soar. O livro discute a identidade, em cuja formação as influências sociais (“os outros”) ocupam um lugar essencial; e especificamente a identidade na sociedade contemporânea, na qual os outros se dissolvem, se multiplicam, se contradizem, se sobrepõem, de tal sorte que o indivíduo pode ver-se atrapalhado e sem referências seguras. Se por um lado o sujeito contemporâneo está mais informado, por outro lado tem menos certezas. Pode desenvolver uma maior individualidade, enquanto se vê mais solitário. Usufrui de maior independência, ao custo de menor senso de segurança...

O livro tem três partes, nas quais são desenvolvidos progres-sivamente os seguintes temas: a formação da identidade pessoal e social (interdependentes e indissociáveis); as características da sociedade contemporânea, globalizada, interconectada, tecnificada e pluralista; e as consequências dos processos sociais em curso para a saúde mental dos indivíduos. Uma obra definida pelo autor como “de divulgação científica”, que foge aos jargões acadêmicos e busca incluir o leitor nas reflexões que Ercy Soar vem desenvolvendo a partir de sua formação acadêmica e de sua prática clínica.

OS OUTROS QUE SOMOS: DILEMAS DA IDENTIDADE CONTEMPORÂNEA, Ercy Soar, Editora Unisul, à venda com o autor, no site da Editora Unisul, nas lojas e no site da Livraria Cultura, da Livraria Saraiva e da Livrarias Catarinense. Em Curitiba, está à venda na Livraria do Chaim.

06 novembro 2011

finanças comportamentais



Lançado no último dia 04 de novembro, o livro Finanças Comportamentais: como o desejo, o dinheiro e as pessoas influenciam nossas decisões será uma obra de referência no campo da psicologia cognitiva aplicada às finanças, área em que o primeiro autor Jurandir Macedo Jr é pioneiro no Brasil. Os outros dois autores, Régine Kolinsky e José Carlos J. de Morais são radicados na Bélgica e donos de uma extensa produção científica na área de psicologia cognitiva.
Jurandir Macedo além de professor da UFSC, consultor do Banco Itaú, é fundador do Instituto de Educação Financeira em cujo site (aqui) publica muitos artigos de interesse na área de finanças pessoais.

05 novembro 2011

o novo inconsciente


Publicado este ano, O Novo Inconsciente: como a terapia cognitiva e as neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental, do neurocientista e professor da UFSC Marco Callegaro, traz uma importante contribuição ao campo das ciências da mente, integrando conhecimentos de áreas até então bastante distanciadas, como as neurociências e a psicanálise.
Este livro segue a trilha aberta por outros dois livros homônimos publicados em 2005, quando já tinha o projeto de seu livro e andamento: The New Unconscious (Glasser e Kihlstrom) e The New Unconscious (Hassin, Uleman e Bargh). Todos eles resgatam a noção freudiana de inconsciente, até então explicitamente negada pelas ciências cognitivas, embora implicitamente reconhecida naquilo que lhe é fundamental: que não somos guiados por nossa consciência, e que esta não passa da ponta visível do enorme iceberg que compõe o conjunto das funções mentais.
Diga-se de passagem, este objetivo não é original. O campo da neuro-psicanálise conta com as contribuições de Solm e Kandel - para citar apenas dois nomes influentes - e, no Brasil, os estudos de Vera Lemgruber para o entendimento das psicoterapias. Eu mesmo tenho publicado um artigo em 2003 ("Psiquiatria e pensamento complexo") e um capítulo de livro em 2005 ("Para uma concepção ecossistêmica e interdisciplinar do self") que são tentativas de discutir as bases epistemológicas para um diálogo interdisciplinar, e para uma síntese transdiciplinar, nas ciências da mente. O mérito de Callegaro está na ampla revisão de estudos e nas próprias contribuições ao campo das neurociências.
Na definição de Callegaro,
o novo inconsciente envolve uma miríade de circuitos neurais que se encarregam do trabalho rotineiro pesado, deixando a consciência livre para focalizar os problemas novos a resolver. Se não fosse assim, o monumental trabalho realizado pelo cérebro para computar as características físicas dos estímulos externos inundaria nossa consciência, tornando-a inoperante. (p.31)
A consciência opera através de um processamento serial das informações e com uma memória de trabalho explícita, que permite a percepção do aqui-e-agora. Enquanto isso, o inconsciente opera com processamento paralelo, e com uma memória de trabalho implícita, o que explica não apenas o fato de que aprendemos de forma inconsciente, como somos capazes de algo que parece ser uma contradição de termos: o insight inconsciente.

09 outubro 2011

entrevista


Fui "sabatinado" sobre OS OUTROS QUE SOMOS, com muita competência, aliás, pelo Prof. Eloy Simões, de Comunicação Social da Unisul. Aqui está o resultado:

Por tudo isso, melhor do que falar sobre ele, é ele falar sobre o livro. E pra falar sobre o livro, ninguém melhor que o próprio autor. Pra começar, pedi que ele dissesse qual é o público-alvo do livro. E por que. Ele disse:

“O livro trata exatamente dos dilemas e desafios criados pela vida como a conhecemos em nossos dias. Os dilemas aos quais estamos sujeitos nós todos, como membros da sociedade contemporânea. E quando falo em contemporaneidade, estou pensando naqueles que já se encontram incluídos em padrões de consumo e de inserção digital. Meu leitor imaginário é, portanto, uma pessoa suficientemente informada, com acesso à Internet, publicações e TV a cabo. Idealmente, é alguém com formação universitária, embora não necessariamente nas áreas de ciências humanas ou de ciências da mente.”

Então, provoquei: seu livro pode ser considerado como de auto-ajuda ou de auto-conhecimento? De que maneira ele ajuda? Por que o auto-conhecimento nos tornaria melhores e mais felizes?

“Um psicoterapeuta deve partir do pressuposto de que o autoconhecimento é importante para vivermos melhor, senão mais felizes. Acredito que, quando somos capazes de identificar as fontes de desconforto psíquico, de dar nomes aos sentimentos, de construir sentidos aos fatos que marcam nossa vida, as possibilidades de superar as dificuldades são maiores, ou de lidar com as limitações, quer sejam externas ou internas a nós mesmos (embora esta distinção seja bastante difícil de estabelecer, ou mesmo inexistente, na maioria das vezes). Mas, retornando à primeira parte de sua pergunta: não, não é um livro de auto-ajuda, se você entender por isto um livro que se proponha a dar conselhos e a dizer ao leitor o que fazer... Minha preocupação é propor questões, ajudar o leitor a refletir sobre desafios que ele enfrenta (no mais das vezes sem sequer se dar conta), a pensar sobre o significado e as implicações de se viver na sociedade em que vivemos."

A pergunta seguinte foi: o senhor mostra, no livro, o verdadeiro bombardeio de influências contraditórias e mudanças de costumes a que estamos submetidos. Como encontrar, no meio dessa selva, o caminho correto?

“O nosso ‘problema’ agora é que ‘o problema’ não esteja tão claramente definido, que para alguns ele exista e para outros não, e que não tenha apenas uma solução, pois, felizmente, não vivemos mais no tempo das verdades absolutas. O conhecimento, como tento deixar claro no livro, é, ao mesmo tempo parte da solução e do problema... Tanto mais conhecimento, menos certezas! Tanto mais informação, mais dúvidas! É um paradoxo do qual não podemos escapar... (mais)


08 outubro 2011

01 outubro 2011

rumo ao abismo?



Sensacional esta coletânea de artigos curtos de Edgar Morin. Bom pra quem ainda não o conhece; bom pra quem já o conhece. O subtítulo: "Ensaio sobre o destino da humanidade" dá o tom das discussões. A coletânea foi publicada originalmente em 2007, mas a tradução sempre competente de Edgar de Assis Carvalho lançada no Brasil neste ano, pela Bertrand Brasil.
Você pode não concordar com tudo, mas não dá pra não reconhecer a riqueza do pensamento de Morin e a pertinência das questões que ele levanta. Reparem bem no problema da tensão inerente a ser singular e ao mesmo tempo universal. Na questão cultural, assim como étnica, Morin faz eco à genialidade de Gilberto Freire, já lembrada neste blog (aqui), como se vê nos trechos de "A cultura e a globalização...", transcritos mais abaixo neste post.
RUMO AO ABISMO?
Os desenvolvimentos da ciência, da técnica, da indústria, da economia, que doravante propulsionam a nave espacial Terra, não são regulados nem pela política nem pela ética nem pelo pensamento. [...] A barbárie odiosa oriunda do fundo das eras históricas se combina com a barbárie anônima e hostil da técnica própria à nossa civilização. A aliança entre elas ameaça o planeta. [...] As forças de resistência são fracas. As nações não podem resistir a uma expansão planetária incontrolada senão fechando-se de novo, de modo regressivo, em sua religião e em seu nacionalismo. A internacional cidadã em formação é muito frágil. Uma sociedade civil planetária não emergiu. A consciência de uma comunidade de destino terrestre é muito dispersa.


O DESAFIO DA GLOBALIDADE
Existe uma profunda cegueira na própria natureza do que deve ser um conhecimento pertinente. Segundo o dogma dominante, a pertinência cresce com a especialização e com a abstração. Um mínimo de conhecimento do que é o conhecimento nos ensina agora que o mais importante é a contextualização. [...] Marcel Mauss afirmava: "É preciso recompor o todo." Nós acrescentamos: é preciso mobilizar o todo. [...] Trata-se do problema universal de todo cidadão: como conseguir acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las, e com isso reconhecer e conhecer os problemas do mundo. Essa reforma, que inclui o desenvolvimento da contextualização do conhecimento, exige ipso facto a complexificação do conhecimento.

A CULTURA E A GLOBALIZAÇÃO NO SÉCULO XXI
O século XXI assistirá ao prosseguimento dos processos culturais concorrentes antagônicos e, por vezes, complementares que se manifestaram no fim do século XX: a ampliação da Internet como sistema neurocerebral artificial de caráter planetário, o desenvolvimento das multimídias, tudo isso vai acentuar e ampliar as tendências em curso e acentuar os antagonismos, de um lado, entre uma organização concentrada, burocrática e capitalista da produção cultural e, de outro, entre as necessidades internas de originalidade, singularidade, criatividade do ponto do produto cultural. [...] De forma semelhante, haverá desenvolvimento concorrente e interferente, de um lado, entre os processos de padronização cultural e, de outro, de individualização cultural não somente no nível das obras mas também de sua utilização.
Toda mestiçagem cria diversidade; reparem nas belas eurasianas e nas belas brasileiras. É preciso, também, deixar os homens e as culturas caminharem rumo à mestiçagem generalizada e diversificada, ela mesma, por sua vez, diversificante. [...] Todas as culturas têm uma possibilidade de assimilar o que lhes é inicialmente estrangeiro, pelo menos até certo limiar, variável segundo sua vitalidade e para além do qual são elas que se fazem assimilar e/ou desintegrar. Assim [...] devemos ao mesmo tempo, defender as singularidades culturais e promover as hibridações e mestiçagens: é preciso ligar a salvaguarda das identidades à propagação de uma universalidade mestiça ou cosmopolita, cuja tendência é destruir essas identidades.

03 agosto 2011

luto e depressão

Assim como se pode afirmar que a ansiedade e o medo são as reações naturais e esperadas frente ao desconhecido, a tristeza é a resposta normal frente às perdas de toda natureza: materiais, pessoais ou simbólicas. Entretanto, tem havido uma excessiva medicalização da tristeza e de outras características normais do comportamento humano. Esquece-se que a tristeza é fundamental para a elaboração de nossas experiências e para o aprendizado emocional. Se não nos entristecemos diante das perdas, ou dos sofrimentos próprios e alheios, não somos capazes de elaborar (resolver emocionalmente) essas experiências. A isto chamamos de “luto”, o período que se segue a qualquer perda importante.

Sem que possamos nos entristecer, ou seja, fazer o luto, não podemos tolerar as perdas inerentes à passagem do tempo e as mudanças do ciclo de vida. Afinal, perdemos parte da nossa liberdade individual quando nos casamos; perdemos parte das atenções do cônjuge quando temos filhos; perdemos os filhos quando eles crescem. Perdemos tempo de lazer quando nos tornamos adultos; perdemos idealizações e fantasias na medida em que deixamos de ser adolescentes; e perdemos força física e agilidade mental na medida em que envelhecemos. Aceitar as perdas e valorizar os ganhos que também ocorrem ao longo da jornada é a fonte da sabedoria e exige que possamos passar pela tristeza inerente a esse processo.

Trecho inédito do meu livro Os outros que somos, com lançamento em breve pela Editora Unisul.


29 julho 2011

dilemas da identidade


Na medida em que a tradição perde a força como fonte de conhecimentos, de modelos e regras, aumenta a reflexividade, já que tudo precisa ser pensado, ponderado e avaliado antes que as escolhas sejam feitas. Assim, as pessoas tendem a se sentir cada vez mais inadequadas, ao não saberem se as opções que fazem são “certas”, “saudáveis” ou “politicamente corretas”. O mais grave de tudo é que as dúvidas estendem-se inclusive sobre a representação que cada um constrói sobre si mesmo ao longo da vida, ameaçando a sua segurança ontológica: a segurança de sabermos quem somos, o que pensamos, como agimos, e assim por diante.

Trecho de Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea. Lançamento em breve pela Editora Unisul.


02 julho 2011

dilemas (2)


É falsa a crença de que o ser humano é por natureza solitário e egoísta, que encontra defensores ilustres, entre os quais Shopenhauer, que afirmam que o homem só busca o outro, ou só nutre uma amizade, por puro interesse egoísta. Tal concepção leva à conclusão de que viver em sociedade, e ter a necessidade de reconhecimento e de afeto de outros, é um distanciamento da verdadeira natureza humana. O ser humano deveria, nessa perspectiva, ser capaz de viver de maneira auto-suficiente e autárquica, e não depender da opinião alheia para a manutenção de sua auto-estima.

Ao contrário, como bem lembra Todorov em seu A vida em comum, não existe tal passagem da vida solitária à sociabilidade, pois esta precede o indivíduo. Os seres humanos “não vivem em sociedade por interesse ou por virtude ou por força de qualquer outra razão; assim o fazem, pois não há para eles qualquer outra forma de existência possível".


Trecho do meu livro Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea, com lançamento previsto para agosto, pela Editora Unisul.


27 junho 2011

dilemas (1)


Toda pessoa tem necessidade de reconhecer a si mesma, e de ser reconhecida, como uma pessoa única, entre tantas outras. Por outro lado, há a necessidade de pertencimento: a sensação de que não se está só, de que se faz parte de uma família, de uma comunidade, uma religião, uma cultura ou uma nação. A construção da identidade envolve, portanto, estas duas forças contraditórias e complementares: a vontade de ser único e a vontade de fazer parte.

Trecho do meu livro Os outros que somos: dilemas da identidade contemporânea, com lançamento previsto para muito em breve.


30 maio 2011

millennials



Global Youth or MILLENNIALS, the new generation.

Genial vídeo legendado que faz uma breve história da juventude na era da Internet, o que significa ser jovem em tempos de "consciência coletiva", e os desafios de ser jovem na sociedade contemporânea.

19 maio 2011

waves


vaga
NO MAR
vago espanto
NO OLHAR


01 maio 2011

a cancer on the planet



Jonathan Franzen é o cara da cena literária americana e (também nisto!) mundial. Sua prosa é tão densa quanto a de Roth, com a vantagem de não ser judaico-centrada. Observador de pássaros (o que a nós, brasileiros, parece uma boiolice, ainda que seja uma atividade levada a sério em outros paralelos) melhor observador ainda é da sociedade americana. Sua análise das neuroses culturais costuma passar pela família, como neste monumental romance, Freedom, que rendeu-lhe muitos elogios e grande publicidade nos EU, no ano passado.
Transcrevo uma passagem já próxima ao final, quando Walter, executivo de uma fundação de proteção ambiental que oculta interesses menos nobres e confessáveis de conglomerados da indústria do carvão, bota a boca no trombone num surto de raiva e cansaço.


Wellcome to the middle class! [...] Now you, too, can help denude every last scrap of native habitat in Asia, Africa, and South America! You, too, can buy six-foot-wide plasma TV screens that consume unbelievable amounts of energy, even when they're not turned on! But that's OK, because that's why we threw you out of your homes in the first place, so we could strip-mine your ancestral hills and feed the coal-fired generators that are the number-one cause of global warming and other excellent things like acid rain. It's a perfect world, insn't it? It's a perfec system, because as long as you've got your six-foot-wide plasma TV, and the electricity to run it, you don't habe to think about any of the ugly consequences.
...
And meanwhile we are adding thirteen million human beings to the population every month! Thirteen million more people to kill each other in competition over finite resources! And wipe out every other living thing along the way! IT IS A PERFECT FUCKING WORLD AS LONG AS YOU DON'T COUNT EVERY OTHER SPECIES IN IT! WE ARE A CANCER ON THE PLANET! A CANCER ON THE PLANET!

17 abril 2011

o espírito do ateísmo



André Comte-Sponville é autor do excelente Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, e de um pequeno livro, ilustrado por sua esposa, A Vida Humana, que trata das viscissitudes do ciclo vital (para citar apenas dois de seus inúmeros títulos publicados no Brasil). Este, O Espírito do Ateísmo, prima pela maneira respeitosa como trata o tema, e pela consistência e elegância de sua argumentação. O título já traz embutida uma provocação: como o "espírito" do ateísmo, se este geralmente pressupõe uma visão materialista do mundo? É disto que ele trata na terceira parte do livro "Uma espiritualidade sem Deus?", da qual transcrevo alguns trechos:



Somos seres finitos abertos para o infinito; seres efemeros, abertos para a eternidade; seres relativos, abertos para o absoluto. Essa abertura e o próprio espírito. A metafísica consiste em pensá-la; a espiritualidade em experimentá-la, exercê-la, vivê-la. [...] Ser ateu não é negar a existência do absoluto; é negar que o absoluto seja Deus. ... O conjunto de todas as condições é necessariamente incondicionado, o conjunto de todas as relações é necessariamente absoluto, o conjunto de todos os pontos de vista não é um ponto de vista.

...

É o que podemos chamar de naturalismo, de imanentismo ou de materialismo. A natureza é para mim o todo real (o sobrenatural não existe), e existe independentemente do espírito (que ela produz, que não a produz). [...] Natura, sive omnia: a natureza, isto é, tudo.

...

Que a natureza existe antes do espírito que a pensa, disto estou convencido. é onde o naturalismo, para mim, leva ao materialismo. [...] Ser materialista, no sentido filosófico do termo, é negar a independência ontológica do espírito. Não é negar sua existência. [...] O espírito não é a causa da natureza. É seu resultado mais interessante, mais espetacular, mais promissor.

...

No fundo, é o que Freud, fazendo sua uma expressão de Romain Rolland, chama de "sentimento oceânico". Ele o descreve como "um sentimento de união indissolúvel com o grande Todo e de pertencimento ao universal". [...] Esse sentimento "oceânico" não tem, em si, nada de propriamente religioso. Pelo que dele vivi, tenho até a impressão oposta: quem se sente "em unidade com o Todo" não precisa de outra coisa. Um Deus? Para quê? O universo basta. Uma Igreja? Inútil. O mundo basta. Uma fé? Para quê? A experiência basta.


05 abril 2011

consumismo




Você tem fome de quê?
(clique no link acima)

Minha palestra nos Diálogos Itaú de Sustentabilidade
SP, 31 de março de 2011.