05 novembro 2011

o novo inconsciente


Publicado este ano, O Novo Inconsciente: como a terapia cognitiva e as neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental, do neurocientista e professor da UFSC Marco Callegaro, traz uma importante contribuição ao campo das ciências da mente, integrando conhecimentos de áreas até então bastante distanciadas, como as neurociências e a psicanálise.
Este livro segue a trilha aberta por outros dois livros homônimos publicados em 2005, quando já tinha o projeto de seu livro e andamento: The New Unconscious (Glasser e Kihlstrom) e The New Unconscious (Hassin, Uleman e Bargh). Todos eles resgatam a noção freudiana de inconsciente, até então explicitamente negada pelas ciências cognitivas, embora implicitamente reconhecida naquilo que lhe é fundamental: que não somos guiados por nossa consciência, e que esta não passa da ponta visível do enorme iceberg que compõe o conjunto das funções mentais.
Diga-se de passagem, este objetivo não é original. O campo da neuro-psicanálise conta com as contribuições de Solm e Kandel - para citar apenas dois nomes influentes - e, no Brasil, os estudos de Vera Lemgruber para o entendimento das psicoterapias. Eu mesmo tenho publicado um artigo em 2003 ("Psiquiatria e pensamento complexo") e um capítulo de livro em 2005 ("Para uma concepção ecossistêmica e interdisciplinar do self") que são tentativas de discutir as bases epistemológicas para um diálogo interdisciplinar, e para uma síntese transdiciplinar, nas ciências da mente. O mérito de Callegaro está na ampla revisão de estudos e nas próprias contribuições ao campo das neurociências.
Na definição de Callegaro,
o novo inconsciente envolve uma miríade de circuitos neurais que se encarregam do trabalho rotineiro pesado, deixando a consciência livre para focalizar os problemas novos a resolver. Se não fosse assim, o monumental trabalho realizado pelo cérebro para computar as características físicas dos estímulos externos inundaria nossa consciência, tornando-a inoperante. (p.31)
A consciência opera através de um processamento serial das informações e com uma memória de trabalho explícita, que permite a percepção do aqui-e-agora. Enquanto isso, o inconsciente opera com processamento paralelo, e com uma memória de trabalho implícita, o que explica não apenas o fato de que aprendemos de forma inconsciente, como somos capazes de algo que parece ser uma contradição de termos: o insight inconsciente.

Um comentário:

Gedson Lidorio disse...

O trabalho de Callegaro nos inspira a dizer que se Freud estivesse vivo hoje teria revisto não um de seus esboços ou livros, mas todos, com absoluta certeza, tarefa advinda da própria natureza dele, pois em vários lugares escreve que em futuro próximo esta ou aquela questão seria estudada de forma mais aprofundada.Hoje o psicanalista precisa, se desejar ajudar essa maioria, dar um pontapé inicial com uma psicoterapia de apoio, geralmente de ênfase cognitivo-comportamental e dezenas de abordagens diferenciadas onde o inconsciente ou material reprimido consciente já não refletido vai se desvelando, para atacar transtornos diferentes. Técnicas que utilizam a interação das lateralidades do cérebro são importantes para mapear os pontos de psicossomatização e as pulsões neuróticas, praticando a sensibilização e dessensibilização ou uma espécie de “habituação psicanalítica” trabalhando, assim, as lateralidades cerebrais e as memórias. O conhecimento dos cérebros reptiliano, límbico e córtex leva-nos a visualizar mais opções desenvolvendo reeducação das emoções e redirecionamento ou esmaecimento de pulsões a nível inconsciente, trabalhando o inconsciente mesmo sem ter acesso às fontes dos traumas, tipos de técnicas que somente a nova psicanálise pode realmente esboçar de forma profunda.