09 maio 2013

reflexões hospitalares



Curitiba, primeiro de maio de 2013.
É dia do trabalho e por isso não há quase ninguém trabalhando. Os corredores do hospital estão vazios e solitários. Estou em meu primeiro dia de pós-operatório. Embora já possa caminhar, fui tornado protocolarmente inválido pelo uso compulsório da cadeira-de-rodas.
Primeiro, a tomografia computorizada: a frieza da sala, o silêncio da moça, o ruído da máquina. Em seguida, a radiografia: a sala está ainda ocupada, e sou deixado em espera próximo à porta semi-aberta. Estendido sobre a mesa, o outro paciente tem a cabeça enfaixada, o que me faz pensar que já fora operado. Aguarda paciente, ele também. Seu pijama azul-celeste de seda só pode ter sido comprado por uma esposa dedicada e bem-intencionada. Suas mãos, pousadas sobre o abdome, tremem um tremor grosso e contínuo, tremor parkinsoniano que somente cede com cirurgia (não teria, então, sido operado ainda? ou a cirurgia não foi bem sucedida?).
Eu o vejo, ele não me vê, olhar inexpressivo e paralisado sobre ⎯ ou seria sob, neste caso? ⎯ o teto. Enquanto aguarda, inicia uma jornada com os dedos para localizar os botões do pijama azul de seda. Quando consegue firmar as mãos sobre o botão e a casa, elas param de tremer por alguns instantes, e o restante todo do corpo assume o trabalho involuntário de se mover sem objetivo e sem destino, como o robô de lata de minha infância que balançava os braços, e seu o pegasse pelos braços, balançava todo o resto do corpo. Foram dez minutos assim, ou menos, já que a angústia dilata o tempo, para fechar os quatro botões. Depois foi levado. Minha vez. Espero que tenha mais sucesso em sua próxima cirurgia.


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