17 agosto 2008

Por quem chora Diego?


Diego Hypólito chora pelo povo brasileiro!
O pífio desempenho do Brasil nestas Olimpíadas é uma repetição de todas as edições anteriores e, pelo que tudo indica, nada se está fazendo para superar suas raízes. De um lado temos um sistema educacional do qual pouco temos a nos orgulhar, e de outro uma exacerbada emotividade dos atletas que mais atrapalha que ajuda. Somos “cordiais”, como nos diz Sérgio Buarque de Holanda; sem esquecer que tal cordialidade é um sub-produto do sistema de compadrio do Brasil colônia. Junte-se a isso nossa formação étnica e uma forte influência da religião católica, aqueça-se por aproximadamente cinco séculos e, voilá, eis aí a fórmula do que se poderia chamar de “caráter nacional”. Será que somos um povo cordial demais para sermos vencedores?
Os indicadores internacionais de desempenho educacional revelam que, salvo honrosas exceções, vivemos uma situação calamitosa, especialmente se lançarmos um olhar sobre os ensinos básico, médio e profissionalizante. O Brasil ocupa o 76º lugar no ranking mundial da educação elementar elaborado pela UNESCO e publicado no final de 2007. (No ano anterior havia ocupado do 72º lugar!) A educação para o esporte está incluída nesse quadro desalentador, e continuamos nos enganando a este respeito insistindo em fazer de casos isolados (o sucesso relativo de alguns atletas em campeonatos mundiais de atletismo, judô ou natação) a fonte de falsas ilusões, que insistem em cair por terra.
Mas o problema principal do desempenho brasileiro nessas competições é mesmo a carga emocional vivida pelos atletas, que levam sobre os ombros o peso de serem salvadores desta nossa Pátria. Um-a-um eles se desculpam, ao final, por não terem sido “capazes de dar essa alegria ao povo brasileiro”. Não bastasse aquilo que já é atávico no brasileiro – sua emotividade – a imprensa, e especialmente a Rede Globo de televisão e seus canais SportTV, são em larga escala responsáveis pelo baixo rendimento de nossos atletas, ao se fazerem porta-vozes das supostas expectativas populares, geradas por estes mesmos veículos. Neste caso, já não falo do desempenho coletivo da delegação, mas daqueles que, isoladamente, teriam boas chances de subirem ao pódio.
A extrema pressão exercida por essa mídia sanguessuga resulta repetidamente em fracasso, pois os atletas sentem-se engolfados pelo ufanismo e pela ânsia de medalha, bandeira e hino. Aconteceu com Diane dos Santos em Atenas, aconteceu com Diego Hipólito em Pequim. O choro convulsivo de Cielo Filho revela o sobre-humano esforço de um menino que tomou a si a enorme tarefa de ser herói da pátria, e que, se a levou a termo foi principalmente por seus méritos pessoais. Seu choro foi patético e, até este momento, não o vi se repetir em nenhuma outra ocasião durante os jogos. Nem mesmo o simpático e gordinho lutador de judô que conquistou a primeira medalha de ouro na história da Mongólia comemorou tanto.
O entusiasmo nacionalista distorce a percepção das nossas reais chances, e as reduz ainda mais, ao fazer de cada atleta, de cada equipe, responsável pela honra nacional e pela alegria de todo um povo. Enquanto as TVs americanas dão boletins discretos sobre o desempenho dos vencedores, somos submetidos a infindáveis horas de louvação aos nossos atletas – tanto aos perdedores quanto aos vencedores. Como dizia Schopenhauer, a espécie mais barata de orgulho é o orgulho nacional. Em nosso caso, há ainda a influência de um catolicismo dos mais retrógrados, que justifica o conformismo, a submissão e a identificação com os mais fracos e oprimidos. Esta é uma versão que faz do Sermão da Montanha o centro de uma lógica derrotista. São bem-aventurados os que sofrem, os pequeninos, os perdedores. Eles terão a recompensa eterna. Eis a grande diferença com o calvinismo que fez dos Estados Unidos uma grande nação: nele, serão merecedores do reino dos céus aqueles que o fizerem por merecer, com seu árduo trabalho! A Globo, na falta dos vencedores, apega-se aos perdedores fazendo deles heróis. São vencedores na vida, pelo que conseguem fazer diante do pouco que o país lhes oferece. Merecem nosso reconhecimento, mas não os louros dos campeões.
Quem irá prestar a nossos atletas, quando retornarem, a ajuda profissional para superarem o massacre a que foram submetidos? Serão os mesmos que os “prepararam” para enfrentar as competições? Não é difícil prever que alguns deles venham a adoecer física e psiquicamente. Por outro lado, como aspirar à realização das Olimpíadas no Brasil oferecendo o presente desempenho? Em termos de investimentos na educação e nos esportes, encontramo-nos a anos-luz da China. E não somos bem-aventurados por nosso fracasso. Não seremos jamais. Está na hora de arregaçarmos as mangas!


2 comentários:

Aluizio Amorim disse...

Bravo, meu caro Ercy!
Mais tarde escreverei um post fazendo uma chamada para cá. Seu texto está impecável e mereceria ser publicado num jornal impresso da grande mídia.
Grande abraço do
Aluízio Amorim

Anônimo disse...

Diego hipo ... lito

É camará ... Os óculos não dão mais conta de tantas letrinhas miúdas.
Muito embora pense que não sejam nem os óculos e tão pouco as miúdas letrinhas, outra monta se faz presente, talvez que se represente o "Grande Migué". Não importa propriamente o tema, nem a forma, mas a possibilidade de imputar ao outro: o seu migué. Lágrimas, sorrisos, sobriedade ou emotividade, o que importa? Nada importa? E, a resposta cala o monge, o mestre e a tal da filosofia. Restando apenas o grande silêncio inerente as grandes questões. E neste gélido vazio, que tanto incomoda e que logo deve ser preenchido, é que gostamos de fugir para divagar sobre outras questões. Mangas sempre estiveram dentre as minhas frutas preferidas, mas arregaçar as mangas me deixa desaconchegado: tem alguém querendo aplicar um migué.

Chore Diego de Tróia ... pois é duro ser cavalo expiatório e ainda levar tantas pedradas.