Trechos do livro recém-publicado de Gilberto Freyre, De menino a homem: de mais de trinta e de quarenta, de sessenta e mais anos. Livro de memórias escrito na forma de um diário. O velho Freyre mostra aqui a mesma picardia que escandalizou os mais puristas em seus relatos das sacanagens que rolavam entre a casa-grande e a senzala. (mais)
Longe de ser um Vieira no meu domínio sobre a língua portuguesa abrasileirada, quando, cada noite, converso com Deus ou com Cristo ou com Maria, como se conversasse com amigos íntimos, as palavras que uso são as mais tropicais, as mais telúricas, as mais ecologicamente brasileiras. Não que me repugne o latim, de vogais as mais doces de Igreja e que aprendi com Meu Pai. [...]
Quando, conversando com Deus, abordo assuntos sexuais, que palavras uso para designar fatos dessa espécie? Só as eruditas? Só as elegantes? Só as cerimoniosas?
Devo dizer que não. Por vezes decido que Deus prefere que, como íntimo, seu amigo, seu confidente, os termos relativos a coisas de sexo sejam os cotidianos e até, dentre os cotidianos, os mais crus. Caralho, por exemplo. Não há sinônimo da palavra "caralho" que diga o que diz, pura e cruamente, "caralho".
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