09 outubro 2011

entrevista


Fui "sabatinado" sobre OS OUTROS QUE SOMOS, com muita competência, aliás, pelo Prof. Eloy Simões, de Comunicação Social da Unisul. Aqui está o resultado:

Por tudo isso, melhor do que falar sobre ele, é ele falar sobre o livro. E pra falar sobre o livro, ninguém melhor que o próprio autor. Pra começar, pedi que ele dissesse qual é o público-alvo do livro. E por que. Ele disse:

“O livro trata exatamente dos dilemas e desafios criados pela vida como a conhecemos em nossos dias. Os dilemas aos quais estamos sujeitos nós todos, como membros da sociedade contemporânea. E quando falo em contemporaneidade, estou pensando naqueles que já se encontram incluídos em padrões de consumo e de inserção digital. Meu leitor imaginário é, portanto, uma pessoa suficientemente informada, com acesso à Internet, publicações e TV a cabo. Idealmente, é alguém com formação universitária, embora não necessariamente nas áreas de ciências humanas ou de ciências da mente.”

Então, provoquei: seu livro pode ser considerado como de auto-ajuda ou de auto-conhecimento? De que maneira ele ajuda? Por que o auto-conhecimento nos tornaria melhores e mais felizes?

“Um psicoterapeuta deve partir do pressuposto de que o autoconhecimento é importante para vivermos melhor, senão mais felizes. Acredito que, quando somos capazes de identificar as fontes de desconforto psíquico, de dar nomes aos sentimentos, de construir sentidos aos fatos que marcam nossa vida, as possibilidades de superar as dificuldades são maiores, ou de lidar com as limitações, quer sejam externas ou internas a nós mesmos (embora esta distinção seja bastante difícil de estabelecer, ou mesmo inexistente, na maioria das vezes). Mas, retornando à primeira parte de sua pergunta: não, não é um livro de auto-ajuda, se você entender por isto um livro que se proponha a dar conselhos e a dizer ao leitor o que fazer... Minha preocupação é propor questões, ajudar o leitor a refletir sobre desafios que ele enfrenta (no mais das vezes sem sequer se dar conta), a pensar sobre o significado e as implicações de se viver na sociedade em que vivemos."

A pergunta seguinte foi: o senhor mostra, no livro, o verdadeiro bombardeio de influências contraditórias e mudanças de costumes a que estamos submetidos. Como encontrar, no meio dessa selva, o caminho correto?

“O nosso ‘problema’ agora é que ‘o problema’ não esteja tão claramente definido, que para alguns ele exista e para outros não, e que não tenha apenas uma solução, pois, felizmente, não vivemos mais no tempo das verdades absolutas. O conhecimento, como tento deixar claro no livro, é, ao mesmo tempo parte da solução e do problema... Tanto mais conhecimento, menos certezas! Tanto mais informação, mais dúvidas! É um paradoxo do qual não podemos escapar... (mais)


08 outubro 2011

01 outubro 2011

rumo ao abismo?



Sensacional esta coletânea de artigos curtos de Edgar Morin. Bom pra quem ainda não o conhece; bom pra quem já o conhece. O subtítulo: "Ensaio sobre o destino da humanidade" dá o tom das discussões. A coletânea foi publicada originalmente em 2007, mas a tradução sempre competente de Edgar de Assis Carvalho lançada no Brasil neste ano, pela Bertrand Brasil.
Você pode não concordar com tudo, mas não dá pra não reconhecer a riqueza do pensamento de Morin e a pertinência das questões que ele levanta. Reparem bem no problema da tensão inerente a ser singular e ao mesmo tempo universal. Na questão cultural, assim como étnica, Morin faz eco à genialidade de Gilberto Freire, já lembrada neste blog (aqui), como se vê nos trechos de "A cultura e a globalização...", transcritos mais abaixo neste post.
RUMO AO ABISMO?
Os desenvolvimentos da ciência, da técnica, da indústria, da economia, que doravante propulsionam a nave espacial Terra, não são regulados nem pela política nem pela ética nem pelo pensamento. [...] A barbárie odiosa oriunda do fundo das eras históricas se combina com a barbárie anônima e hostil da técnica própria à nossa civilização. A aliança entre elas ameaça o planeta. [...] As forças de resistência são fracas. As nações não podem resistir a uma expansão planetária incontrolada senão fechando-se de novo, de modo regressivo, em sua religião e em seu nacionalismo. A internacional cidadã em formação é muito frágil. Uma sociedade civil planetária não emergiu. A consciência de uma comunidade de destino terrestre é muito dispersa.


O DESAFIO DA GLOBALIDADE
Existe uma profunda cegueira na própria natureza do que deve ser um conhecimento pertinente. Segundo o dogma dominante, a pertinência cresce com a especialização e com a abstração. Um mínimo de conhecimento do que é o conhecimento nos ensina agora que o mais importante é a contextualização. [...] Marcel Mauss afirmava: "É preciso recompor o todo." Nós acrescentamos: é preciso mobilizar o todo. [...] Trata-se do problema universal de todo cidadão: como conseguir acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las, e com isso reconhecer e conhecer os problemas do mundo. Essa reforma, que inclui o desenvolvimento da contextualização do conhecimento, exige ipso facto a complexificação do conhecimento.

A CULTURA E A GLOBALIZAÇÃO NO SÉCULO XXI
O século XXI assistirá ao prosseguimento dos processos culturais concorrentes antagônicos e, por vezes, complementares que se manifestaram no fim do século XX: a ampliação da Internet como sistema neurocerebral artificial de caráter planetário, o desenvolvimento das multimídias, tudo isso vai acentuar e ampliar as tendências em curso e acentuar os antagonismos, de um lado, entre uma organização concentrada, burocrática e capitalista da produção cultural e, de outro, entre as necessidades internas de originalidade, singularidade, criatividade do ponto do produto cultural. [...] De forma semelhante, haverá desenvolvimento concorrente e interferente, de um lado, entre os processos de padronização cultural e, de outro, de individualização cultural não somente no nível das obras mas também de sua utilização.
Toda mestiçagem cria diversidade; reparem nas belas eurasianas e nas belas brasileiras. É preciso, também, deixar os homens e as culturas caminharem rumo à mestiçagem generalizada e diversificada, ela mesma, por sua vez, diversificante. [...] Todas as culturas têm uma possibilidade de assimilar o que lhes é inicialmente estrangeiro, pelo menos até certo limiar, variável segundo sua vitalidade e para além do qual são elas que se fazem assimilar e/ou desintegrar. Assim [...] devemos ao mesmo tempo, defender as singularidades culturais e promover as hibridações e mestiçagens: é preciso ligar a salvaguarda das identidades à propagação de uma universalidade mestiça ou cosmopolita, cuja tendência é destruir essas identidades.