02 outubro 2008

indignation



Nos últimos dois livros de Philip Roth - o maior escritor americano vivo - o tema central é claramente o terror do envelhecimento. Em Homem comum, o protagonista e narrador inicia seu relato em seu próprio funeral (teria também Roth lido Memórias Póstumas de Bras Cubas?), para depois relatar o périplo de doenças e incapacitações crescentes (além da solidão) pelas quais passou. Em Fantasma sai de cena, publicado no ano passado, um escritor recluso há anos nas montanhas da Nova Inglaterra (à moda de Salinger), retorna à sua NY para tratamento da incontinência urinária, e revive o desejo sexual que já não pode realizar, a perda da memória, e os fantasmas do seu passado.





Recém lançado nesse mês de setembro, nos EUA, Indignation rompe com essa reflexão sobre velhice e morte, e retorna a temas mais propriamente políticos. A narrativa se inicia com as memórias de Marcus Messner, recuando ao início da Guerra da Coréia, em 1950. Então com 19 anos de idade, Marcus é filho de um açougueiro judeu em Newark e, até então, vinha sendo preparado para assumir o negócio do pai. Fugindo a ser convocado a lutar no novo conflito, ao destino dos primos mortos na II Guerra Mundial, e às expectativas de uma vida medíocre, Marcus vai estudar no Winesburg College, em Ohio. Daí pra frente, que não se espere um happy ending de Philip Roth...
Em sua resenha publicada no NYRB deste mês, Charles Simic afirma:

More and more, in Roth's fiction, history and the individual are interdependent. He writes about the experience and the accompanying moral conflicts of those left at the mercy of events and ideas over which they have no power, the kind of people for whom official history has no place while ideology, too, passes over them in silence. It's no exaggeration to say that Roth has been appalled by what has happened politically to his country since the days of Nixon and Vietnam. [...] His powerful new novel, Indignation, seethes with outrage. It begins with a conflict between a father and son in a setting and circumstances long familiar from his other novels going back to Portnoy's Complaint, but then turns into something unexpected: a deft, gripping, and deeply moving narrative about the short life of a decent, hardworking, and obedient boy who pays with his life for a brief episode of disobedience that leaves him unprotected and alone to face forces beyond his control in a world in which old men play with the lives of the young as if they were toy soldiers. Roth's novels abound in comic moments, and so does Indignation. His compassion for his characters doesn't prevent him from noting their foolishness.

I can't hardly wait do read it!


2 comentários:

Marco disse...

Indignation retoma o espírito das poderosas novelas. É a mais contundente obra literária de Philip Roth. Uma vez iniciada a leitura, impossível parar. Uma reflexão dolorosa do papel das instituições norte-americanas.

Ercy Soar disse...

É verdade. Nao sei se "a mais" contundente, mas seguramente é uma porrada. Roth constrói contextos complexos com um número mínimo de personagens. Dispensa as descriçoes enfadonhas de detalhes inúteis sobre locais e pessoas. Me faz lembrar um pouco Dalton Trevisan, só que com muito mais fôlego... suficiente pra descer a profundezas muito maiores. Indignation, embora nao seja sobre a velhice, é também uma reflexao sobre o destino e a morte. Sobretudo, sobre a imponderabilidade do destino, como fica claro na ultima frase: [...] have postponed learning what his uneducated father had been trying so hard to teach him all along: of the terrible, the incomprehensible way one's most banal, incidental, even comical choices achive the most disproportionate result.