29 setembro 2008

machado de assis


Machado de Assis faleceu em 29 de setembro de 1908. Em sua homenagem, publico algumas caricaturas recolhidas na web (a primeira é de Baptistão, e não tenho os créditos das demais). Mais abaixo, a propósito da morte, trechos de seu primeiro grande sucesso, e a obra que marca sua maturidade como escritor: Memórias Póstumas de Brás Cubas. Os três segmentos referem-se, respectivamente, ao momento da morte de Brás Cubas, descrito pelo próprio, já no início do livro; uma parte do relato do delírio que teve pouco antes de falecer; e a frase final, já reproduzida por aí à exaustão...










Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchando-se no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e cousa nenhuma.

...

Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, e via tudo o que passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo.

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Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas.


Um comentário:

shirlei horta disse...

O maior escritor brasileiro de todos os tempos. Tudo que se disser sobre Machado de Assis é pouco. Dá para fazer um blog apenas sobre esse formidável autor.