22 janeiro 2007

As mil e uma noites



Sangue
ou um questionamento sobre As Mil e Uma Noites

SALMAN RUSHDIE

Então: Quantas mulheres eles realmente mataram, o rei, Shahryar, o grande rei sassânida da ilha ou península (jazira) da “Índia e China”, e seu irmão Shahzaman, monarca soberano de Samarcanda? Reza a lenda que tudo começou quando Shahzaman flagrou sua mulher nos braços de um cozinheiro do palácio, que era, acima de tudo, a) negro b) forte e c) gorduroso. Apesar desses atributos, ou justamente por causa disso, a rainha de Samarcanda se esbaldava, de modo que Shahzaman cortou os dois em pedacinhos, abandonou-os no leito de seus prazeres e se dirigiu à casa de seu irmão. Lá chegando, não muito tempo depois, acabou espiando, perto de uma fonte no jardim, sua cunhada, a rainha esposa de Shahryar, acompanhada por dez damas de companhia e dez escravos. Os vinte se entretinham em satisfações mútuas. A rainha, entretanto, chamou seu próprio amante, que desceu de uma árvore onde estava escondido. Ele era – pasmem! – a) negro b) forte e c) sentimental. Que diversão, os vinte e a rainha com seu “negão”! Ah, vai entender a malícia e a perfídia das mulheres e os inexplicáveis atrativos de negros feios, fortes e suados! Shahzaman contou a seu irmão o que tinha visto, levando todos, damas de companhia, escravos brancos e rainha, a encontrarem seu destino, pelas mãos do primeiro-ministro de Shahryar, seu vizir. O sentimental amante negro da rainha, ao que tudo indica, conseguiu fugir. Como explicar, se não, sua ausência na lista dos mortos?

Homem de sorte!

Muito bom o ensaio de S. Rushdie (o mesmo autor de Versos Satânicos, aquele que foi condenado a morte pelos aiatolás do Irã, lembra?)! Aí vão os dois primeiros parágrafos, mas vale a pena lê-lo inteiro (clique aqui). Na revista piauí, pra variar!

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