05 dezembro 2006

A chave do prazer


Estudo sobre perfil sexual do brasileiro mostra preferências, dificuldades e quebra mitos na relação a dois

Abra esta porta e descubra o que o sexo pode ser na vida de cada um. Com menos mitos, mais verdades e, sobretudo, com "paixão, amor, intimidade, atração, como pregam os mais afeitos. Sem essa receita, é apenas um arremedo, uma caricatura. Seja lá como for, arremedo ou obra-prima, o sexo sempre surpreende os iniciantes, enleva os iniciados e deixa saudades nos desertores", diz a psiquiatra Carmita Abdo, pesquisadora da sexualidade humana desde 2000.
Professora da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Projeto de Sexualidade (ProSex), ela acaba de lançar o livro Sexo pode ser, pela Editora Prestígio, com os principais dados de um estudo amplo sobre os hábitos, as preferências, as práticas e as dificuldades dos brasileiros na cama.










O rapto de Psiquê.
Nesta pintura a bela Psiquê é levada por seu amante imortal, Cupido.
Adolphe-William Bouguereau, 1895.

O livro foi escrito a partir da análise de uma pesquisa com 7.103 homens e mulheres, maiores de 18 anos, que não revelaram a identidade para responder voluntariamente a um questionário de 87 perguntas de múltipla escolha. "A privacidade e o anonimato eram pré-requisitos, para que as respostas fossem as mais sinceras possíveis", explica.
O livro é um resumo do sexo que os brasileiros confessam praticar. Dois terços dos adultos, por exemplo, preferem sexo sem hora marcada. Curiosamente, 7% só fazem sexo em situações especiais. Muitos estão insatisfeitos com a qualidade da ereção, ou seja, quase a metade dos homens (45,1%).
São cinco situações que mais complicam o desempenho sexual, de acordo com a pesquisa: cansaço, rotina, pouco tempo para o sexo, ansiedade e sexo programado. Os riscos envolvidos na atividade sexual ainda são grandes, já que 43,6% das mulheres e 34,9 % dos homens nunca usam preservativo nas relações sexuais.
O sexo pode ser tudo isso: "Prazer hoje, dor ou risco amanhã. Ou, então, orgasmo, receita, beijo, intimidade, fantasia, equilíbrio, queixa, entre outras possibilidades. Pode ser tudo isso e muito mais, dependendo de como, quando e com quem", diz Carmita. Mas a partir de agora, fica por sua conta o que o sexo pode ser.
Pelo menos 70% dos brasileiros consideram o próprio desempenho sexual de bom a excelente em qualquer etapa da vida. Além de mostrar o comportamento sexual do brasileiro, o livro da psiquiatra Carmita Abdo deve servir também como um espelho, no qual se refletem as dúvidas, angústias, medos, dores e, principalmente, as fantasias. Os números mostram que ninguém, homens e mulheres, está só em suas inquietações, dilemas e desejos. Se quase metade dos brasileiros está insatisfeita com a qualidade de suas ereções, uma parcela também significativa não tem controle da ejaculação. De acordo com a pesquisa, um quarto dos homens do Brasil (25,8%) gostaria de melhorar essa performance e conseguir prolongar o ato sexual.
O livro, recheado de estatísticas, derruba o mito de que os brasileiros fazem muito sexo. "Temos duas a três relações por semana. Mas gostaríamos de, se possível, ter o dobro", diz a pesquisadora. A queixa de limitação do parceiro ou do relacionamento atinge 50,9% das mulheres e 48,1% dos homens. A masturbação ainda é um tabu para boa parte das mulheres. "Cerca de um terço das brasileiras nunca se masturbou, enquanto 3,4% dos homens evitam esse tipo de prática sexual. Os homens, por exemplo, confessam que se masturbam freqüentemente ou às vezes (66,2%). Quanto a elas, 42,7% têm esse hábito. Por outro lado, um quarto delas e 30% deles deixaram essa prática no passado.
Mas o sexo pode ser "um desatino, quando se é muito novo ou inseguro. Um tiro no escuro, sem alvo e sem destino ou uma vontade que não pede licença, mas atropela. Pode ser um desabafo, uma válvula de escape. Um saco. Uma porta que se abre para a vida". De forma lúdica e poética, a psiquiatra vai revelando as respostas dos brasileiros. Para ela, o sexo pode ser um desafio, se a atração acabou, se está por um fio. Ou se nunca existiu. Pode ser uma surpresa, o descobrimento, a redenção. Ou uma fraqueza, o desalento, a decepção. Um sacrifício, um sanguessuga, um vício. Uma grande sacada, a reviravolta, a virada. Uma mania, ousadia insistente e repetitiva. Uma prisão, sem solução, sem prazer e sem esquiva. Pode ser o que inspira, faz transpirar e rejuvenesce. O que assegura, mistura e enlouquece. O que declara, a céu aberto, os desejos mais secretos. "Paradoxalmente, muito mais do que se possa dizer, escrever ou expressar, sexo é para fazer, sentir e calar", conclui.
Ao ler as estatísticas publicadas por Carmita, pode-se perceber que o brasileiro imagina mais do que faz. "A maioria ou pelo menos 70% considera o próprio desempenho sexual de bom a excelente em qualquer etapa da vida. Exceto os homens com mais de 60 anos, para quem (ainda assim) os índices de excelente a bom são da ordem de generosos 55%. Pelo menos", diz ela, "em uma auto-avaliação. Melhor não perguntar a opinião do parceiro", brinca. Segundo Carmita Abdo, as primeiras experiências sexuais entre os jovens podem ser frustrantes. Falha de ereção e descontrole na ejaculação ocorreram a 56,7% dos adolescentes na iniciação sexual. Coincidentemente, 56,6% das jovens tiveram dificuldades de orgasmo nessa fase.
Tanto para homens quanto mulheres, o beijo é a expressão mais perfeita e mais aceita da sexualidade. Mas há também que não faça mais sexo. Como afirma a pesquisadora, "por convicção, falta de opção ou aversão, 7,7% das mulheres e 2,5 dos homens não fazem sexo."

Fonte: Estado de Minas, 27/11/06 (texto resumido por mim)
Postado na Lista Brasileira de Psiquiatria e transcrito aqui por ser do interesse geral...

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