Devolve os pobres olhos que eu perdi
E que te habitam, desde que te vi.
Mas se eles já sofreram tal castigo
E tantos danos,
Tantos enganos,
Tal rigor,
Que a dor
Os fez inúteis, guarda-os contigo.
Devolve o coração que te foi dado
Sem jamais cometer qualquer pecado.
Porém, se ele contigo já aprendeu
Como se mata
E se maltrata
E se tortura
Uma alma pura,
Guarda, também, esse ex-pedaço meu.
Melhor, devolve olhos e coração,
Para que eu possa ver a traição,
E possa rir, quando chegar a hora
De te ver
Padecer
Por alguém
Que tem
Um coração como o que tens agora
John Donne (1572-1631)
Tradução de Augusto de Campos
Original, em inglês
John Donne (1572-1631) nasceu em Londres, no seio de uma proeminente família católica que se converteu ao Anglicanismo na década de 1590. Aos onze anos de idade ingressou na Universidade de Oxford, e em seguida frequentou também a Universidade de Cambridge. Em 1592 iniciou seus estudos de Direito, e logo tornou-se secretário particular do Guardião do Selo Real. Casou-se secretamente com a filha de seu patrão, aos 26 anos, tendo de trabalhar como advogado. Tornou-se um padre da Igreja Anglicana em 1615, fez fama como pregador, e chegou a ser nomeado bispo da Catedral de St. Paul.
A poesia de Donne abarca um amplo leque de temas profanos e religiosos, passando do tom cínico (como se pode notar na poesia transcrita acima) para o francamente romântico. Qualquer que seja o assunto, os poemas de Donne revelam as características dos poetas metafísicos: jogos sutis de palavras, freqüentemente de cunho sexual; paradoxos; argumentos sutís; constrastes surpreendentes; análises psicológicas intrincadas; e uso de imagens provenientes de áreas não tradicionais como o Direito, fisiologia, filosofia escolástica e matemática.
A prosa de Donne é quase tão metafísica quanto a sua poesia, representada muito bem por seus sermões. Obsecado pela idéia de morte, Donne pregou o que tem sido considerado o seu próprio sermão fúnebre, "Death's Duel", semanas antes de vir a falecer, em Londres, no dia 31 de março de 1631.
Fonte: online-literature.com
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