14 dezembro 2006

Processo de hominização


Os critérios tradicionais de animalidade e humanidade têm sido colocados em xeque por inúmeros estudos etológicos, principalmente aqueles conduzidos com os chimpanzés, os animais mais próximos evolutivamente ao ser humano, cuja estrutura de DNA apresenta uma semelhança com a humana da ordem de 98%. Tais estudos deixam claro que estes primatas não apenas são capazes de construir e utilizar ferramentas, como de transmitir esse conhecimento às gerações mais novas; de utilizar formas de comunicação simbólica; além de apresentarem comportamentos de evitação do incesto.
A partir de seu extenso trabalho de observação de chimpanzés, Fouts relata os processos de aprendizagem e de transmissão trans-geracional da utilização da linguagem de sinais dos mudos por estes primatas, através da qual evidenciou recursos mentais muito superiores àqueles tradicionalmente aceitos no mundo animal, como a utilização de sintaxe nas frases; a classificação através de tipos lógicos; a utilização de operações mentais complexas envolvendo algumas generalizações e abstrações; além da capacidade de pensamento dedutivo, de memória e de planejamento de ações futuras. Estes recursos mentais colocam por terra os pressupostos cartesianos da desvinculação do ser humano do mundo animal e da separação entre razão e intuição, e contradizem a hipótese de Chomsky da existência de um órgão de linguagem – uma estrutura neurológica – que seria especifico da espécie humana. Ao contrário, sugerem que, através da manipulação ambiental, um bebê pode ter seu cérebro influenciado para que se afaste do processo simultâneo de inteligência, que é tão crucial na selva, e se oriente para o processo sequencial requerido para a linguagem humana.
Dois atributos ainda distinguem o ser humano de seus parentes próximos, os grandes símios: (A) a capacidade de construir e utilizar ferramentas para utilizar outras ferramentas (por exemplo, usar uma linha na agulha), e (B) a consciência da própria consciência.
Por fim, é bom lembrar que, a rigor, está errado chamar de "macacos" os grandes primatas (chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos). Eles constituem uma família diversa dos "outros" macacos, e sua linhagem evolutiva provém de um ramo comum a nós, humanos.
Referências:
FOUTS, R. (1998) O parente mais próximo: o que os chipanzés me ensinaram sobre quem somos. Rio de Janeiro: Objetiva.
MATURANA, H. & VARELA, F. (1995) A árvore do conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. Campinas: Editorial Psi.
SMITH, C.M. (2006) O despertar da mente moderna. Viver mente&cérebro, novembro.
WERNER, D. (1997) O pensamento de animais e intelectuais: evolução e epistemologia. Florianópolis: Editora da UFSC.

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