Com base em pistas sobre o modo de vida ancestral, a psicologia investiga as trilhas evolutivas do ciúme e as razões das diferenças sexuais na expressão desse sentimento.
Baseado no artigo de Christine R. Harris
A psicologia evolutiva procura explicar as características da mente humana a partir das pressões seletivas que atuaram sobre nossos ancestrais. Seguindo esse caminho, vários psicólogos evolucionistas têm proposto a existência de um módulo emotivo-afetivo inato, no sistema nervoso dos humanos, associado ao ciúme. Este módulo tornaria os homens mais predispostos ao ciúme por infidelidade sexual da parceira, enquanto as mulheres estariam predispostas ao ciúme relacionado à traição emocional do parceiro.
Essa idéia tornou-se tão mais forte a partir de leituras apressadas dos experimentos conduzidos pelo psicólogo David Buss, da Universidade do Texas, no início da década de 1960. Ele realizou várias investigações com universitários, utilizando o método de escolha forçada. Pedia aos participantes que imaginassem seu parceiro ou parceira fazendo sexo fora da relação, ou apaixonados por outra pessoa, e que escolhecem qual a pior alternativa.
Os resultados pareciam apontar consistentemente na direção já mencionada: até 60% dos homens relatavam que a infidelidade sexual seria pior, e mais de 70% da mulheres escolhiam o envolvimento emocional do parceiro como pior alternativa. Essas conclusões foram finalmente submetidos a várias metanálises e contraprovas, e não parecem ser tão definitivas quanto se acreditava. Uma das primeiras descobertas foi de que essas diferenças parecem diminuir bastante com o aumento da idade e entre homossexuais, assim como não aparecem em outros contextos culturais diferentes do norte-americano.
No caso dos homens, a principal ressalva está na possibilidade de um erro de interpretação, que vem sendo chamado de "tiro duplo". Os homens achariam a infidelidade sexual mais insuportável porque a mulher não faria sexo com outro homem se não estivesse apaixonada por ele. As mulheres, por sua vez, sabem que os homens fazem sexo mesmo quando não há relação de afeto.
A autora, que é pesquisadora da Universidade da California em San Diego, foi uma das revisoras da teoria de que existe um módulo inato do ciúme diferente para cada sexo. Segundo ela, as pesquisas sugerem que não há diferenças importantes entre os sexos na expressão dessa emoção no contexto conjugal. As diferenças sexuais que de fato existem parecem refletir desigualdades mais no juízo cognitivo que na estrutura física de cada sexo.
Fonte: A evolução do ciúme, em viver mente e cérebro de nov. 2006.
3 comentários:
Adorei o tema, espero que haja a continuação do estudo...
Anônimo disse...
S.m.j., este conceito de que "a mulher não faria sexo com outro homem se não estivesse apaixonada por ele", na prática, está ultrapassado. Também, contradizendo as informações estatísticas, hoje, além de 'as mulheres, tanto quanto os homens, fazerem sexo mesmo quando não há relação de afeto', elas traem mto mais do que os homens...
O homem usa a "traição" (sexo por sexo) como 'muleta' para sair da relação de afeto...
Caro Erci:
Existem muitos universais humanos ainda pouco esclarecidos nas teorias das ciências cognitivas. Entretanto, a evolução é um processo de lapidação com paciência oriental... Tentar sugerir uma adaptação a padrões francamente ocidentais e modernos é forçar a barra... Se é que existem, nossos módulos de ciúme foram moldados segundo a melhor performance em ambientes africanos setentrionais de precários bípedes nômades coletores... Nesse contexto, a especialização do ciúme conforme o gênero é remota...
Entretanto, o debate é sempre bem vindo, e compreender as mulheres (com ou sem módulos especializados) é e será sempre um desafio teórico e uma curiosidade prazeirosa...
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