24 novembro 2006

Goiabas, etc

A revista Piauí continua mandando bem, neste segundo número. Um bom exemplo do seu humor inteligente é o ensaio final, desta vez por conta de SAULO TH. PEREIRA DE MELO ("sweet maker"). Na forma de uma carta de amor, ele nos ensina a fazer uma goiabada come il faut. Essa receita veio a calhar para mim, que estou vivendo uma fase, digamos, bem Romeu e Julieta. Como sou doido por goiabada (principalmente a legítima mineira), deixo também aqui uma dica culinária, bem prosaica, por sinal: o novo sorvete de goiaba com nata da Kibon é uma delícia! Se quiser torná-lo ainda melhor, pegue essa goiabada que você vai aprender a fazer (ou pode comprar uma pronta, se achar mais fácil), derreta-a misturando com um pouco de água em fogo brando, até fazer uma calda, e derrame-a sobre o sorvete. Ecco li, un bello "caldo e fredo"!
Transcrevo abaixo o trecho inicial do ensaio:

TRATADO GERAL DA GOIABADA

An essay concerning the making of a good goyabada

Perguntavas-me muitas vezes por que eu fazia uma goiabada tão gostosa — e pedias a receita. Eu dizia que, como Leibniz, eu gostava de ter prazer no prazer do ser amado: tu. “E a receita?” — eu eludia a questão: não há receita, há um “procedimento”. Ademais, querida, dona do meu coração, este procedimento é Alchímico (com ch é mais bacana…). Fazer uma boa goiabada é como fazer L’oeuvre en Noir — fazer ouro. Ou a Philosophical Stone, l’élixir de vie e a Universalmittel. Veja só a importância de uma boa goiabada. Aprendi o procedimento, escrito em linguagem hermética, no Necromicron, aquele livro maldito que nunca existiu e que o Lovecraft me emprestou e eu devolvi. Mandei por sedex, para ele, em Providence, antes de eu nascer e depois de ele morrer.

Então, por amor a ti e enfrentando todas as maldições, ameaças e feitiços da Kabbala — aí vai, mas tenho que perguntar, tal como O Coelho Branco, para o Rei (ou será a Rainha?): “Where shall I begin, please, your Majesty?” E o Rei (ou a Rainha), do alto de sua sabedoria real, disse “very gravely”: “Begin at the beginning [you ass] and go on till you come to the end: then stop.”

E assim, seguindo o mais sábio, ilustre, real e lógico conselho — começo pelo começo. E o começo da goiabada é a goiaba!

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