02 novembro 2007

28 agosto 2007

As teorias da identidade (II)


(continuação deste post)

A noção de pessoa humana existe em todas as culturas, e já aparece na Antiguidade, com termos que compreendem uma gama de significados que vão de “alma” a “mente”, passando por “animo, alento, espírito”: em sânscrito alman, em grego psyche, em latim animus e spiritus. Esta superposição de significados existe ainda hoje no idioma alemão, com o termo Seele, que se refere tanto à alma quanto à mente.
Como já foi dito na primeira parte deste artigo, a concepção de pessoa ou indivíduo, tal como o entendemos atualmente, não tem sido a mesma ao longo da história, nem em todas as culturas. Em várias sociedades ainda não contaminadas pela cultura ocidental moderna, o Eu tende a ser entendido não como uma unidade autônoma e independente, mas como parte de um todo maior. A idéia de pessoa, ou do “si-mesmo” é, nessas culturas, muito mais contextual e relacional. Por exemplo, entre os Zulu, na África meridional, existe a seguinte expressão: umuntu ngumuntu ngabantu, que significa “você é apenas uma pessoa por causa das outras pessoas”. O conceito de humanidade, nessa cultura, inclui não apenas as outras pessoas, mas também os outros seres vivos e falecidos, e os ambientes naturais e materiais que dão sustentação à vida.
Um segundo exemplo nos é fornecido pela noção de nisba, presente na cultura Sefrou, do Marrocos. O nisba é a partícula do nome de toda pessoa que a identifica com algum grupo de parentesco ou afinidade, significando “nascido em tal lugar”, “filho de fulano”, “de tal tribo”, etc. No que diz respeito à concepção de pessoa, portanto, os Zulu e os Sefrou já antecipavam as tendências atuais da ciência em pensar o mundo em termos sistêmicos, com o ser humano integrando seus contextos relacionais e ecológicos.
Entretanto, na cultura ocidental contemporânea, a noção de pessoa e de Eu tem uma conotação muito mais individualista. Vimos que esta noção começa a ser construído na Grécia Antiga, com Sócrates. Durante toda a Idade Média, o indivíduo deixou de ser pensado como um agente autônomo, e estava predestinado em grande parte a ser o que era pela estrutura rígida da sociedade feudal e pela influência da igreja, num período que viria a ser denominado de Escolasticismo. Nesta concepção teológica, ocorre o “desaparecimento” do Eu; o ser humano perde sua capacidade de produzir conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo; e as verdades são apenas aquelas reveladas por Deus na Bíblia, e interpretadas pela Igreja. Tal situação viria a se modificar no Renascimento, por ocasião da Reforma Protestante, o Iluminismo e o surgimento do liberalismo burguês. O Renascimento, de fato, significou um “novo nascimento” da idéia de indivíduo como ser independente, responsável por suas escolhas, e capaz de pensar.
Uma manifestação desse nascimento do sujeito moderno encontra-se na literatura, com as obras introspectivas de Shakespeare, cheias de questionamentos acerca do que é a vida e a morte, o amor, e todos os outros sentimentos que caracterizam a condição humana. Aí está Hamlet a se perguntar: ser ou não ser...? Na filosofia, encontramos a famosa frase de Descartes, que foi um dos filósofos mais importantes desse período, e que define a condição humana exatamente pelo fato de sermos seres pensantes: cogito, ergo sum, ou seja, penso, logo existo.
De fato, é a capacidade de pensar, recuperada no período da Modernidade, assim como a liberdade individual, que vai dar forma à concepção de sujeito ainda dominante em nossa cultura. Não apenas René Descartes, mas outros filósofos como David Hume e John Locke, ocuparam-se bastante em entender como se constrói o saber e, por conseqüência, como o indivíduo se constitui enquanto um ser autônomo.
Mas ainda não havia surgido uma disciplina científica bem definida que se dedicasse ao conhecimento da mente humana, o que ocorreria apenas no início do século XX, com o aparecimento da Psicologia e da Psicanálise.

26 agosto 2007

24 agosto 2007

Ranking blogosférico


De blog em blog, publico aqui o link para os 100 blogs TOP em língua portuguesa.


20 julho 2007

Insultus morbi primus


Primeira das Meditações de John Donne, publicadas originalmente em 1624, sob o título geral de Devoções para Ocasiões Emergentes e os Distintos Estágios de minha Enfermidade. Esta obra foi escrita ao longo de uma doença que levaria Donne à morte. As Meditações ganharam uma recente edição bilíngüe (inglês/português) da Landmark. Mais sobre John Donne aqui.

VARIÁVEL, e conseqüentemente miserável, é a condição do homem! Nesse minuto estava bem e agora estou doente, no mesmo minuto. Surpreende-me essa mudança repentina, a alteração para pior, e não posso imputá-Ia nenhuma causa, nem chamá-la por nenhum nome. Estudamos a saúde, e deliberamos sobre nossas carnes, e bebemos e respiramos e nos exercitamos, além de talhar e polir cada pedra utilizada nessa construção; e assim a nossa saúde é um trabalho longo e regular, que em minutos um canhão abate a tudo, põe fim a tudo, demole tudo; uma enfermidade não prevista por toda a nossa diligência, inesperada por toda nossa curiosidade; e deste modo, injusta, se considerarmos somente a desordem, que nos exige, nos seqüestra, nos possui e destrói em instantes. Ó miserável condição do homem!


18 julho 2007

A descoberta dos livros

Segmento de um capítulo do livro autobiográfico Infância, de Graciliano Ramos. Outro relato semelhante sobre a admiração maravilhada e a curiosidade diante de todos os segredos contidos nos livros encontra-se em "As palavras", de J-P Sartre, que qualquer dia publico aqui.


APARECEU uma dificuldade, insolúvel durante meses. Como adquirir livros? No fim da história do lenhador, dos fugitivos e dos lobos havia um pequeno catálogo. Cinco, seis tostões o volume. Tencionei comprar alguns, mas José Batista me afirmou que aquilo era preço de Lisboa, em moeda forte. E Lisboa ficava longe.

Invoquei, num desespero, o socorro de Emília. Eu preecisava ler, não os compêndios escolares, insossos, mas avennturas, justiça, amor, vinganças, coisas até então desconheecidas. Em falta disso, agarrava-me a jornais e almanaques, decifrava as efemérides e anedotas das folhinhas. Esses retalhos me excitavam o desejo, que se ia transformando em idéia fixa. Queria isolar-me, como fiz quando nos mudamos em razão de consertos na casa. Para bem dizer, os outros é que se mudaram. A pretexto de ver os trabalhos, escapulia-me com o romance debaixo do paletó, voltava, desviava-me dos pedreiros, serventes e pintores, ia esconder-me na sala. Mergulhava numa espreguiçadeira e, empoeirado, sujo de cal, sentindo o cheiro das tintas, passava horas adivinhando a narrativa, à luz que se coava pelos vidros baços. Privara-me desse refúgio. E onde conseguir livros?

Emília tentou auxiliar-me, contou pelos dedos os possuidores prováveis de bibliotecas, sisudos, inacessíveis: dr. Mota Lima, professor Rijo, padre Loureiro. Não me arrisscaria a chateá-Ios. Mais próximo, havia o tabelião Jerônimo Barreto. Diariamente, percorrendo a ladeira da Matriz, demorava-me em frente do cartório dele, enfiava os olhos famintos pela janela, via numa estante, em fileiras densas, bonitas encadernações de cores vivas. À mesa larga, em mangas de camisa, o funcionário manejava instrumentos jurídicos. E um respeito cheio de inveja me detinha na calçada. Atribuí àquele rapaz moreno ciência poderosa, estranhei vê-lo, simples e calmo, juntar-se aos freqüentadores da loja, onde metia na conversa Robespierre e Marat, dois tipos que venerei antes de me chegar qualquer notícia de revolução e da França.

Esperei que Emília falasse a Jerônimo. Recusou-se. Expus a situação a José Batista, o único empregado que não me inspirava rancor. José Batista fechou o diário, escutou-me, julgou dispensáveis os medianeiros, pois a minha preetensão era modesta. Eu a considerava exorbitante.

Saí do escritório num desânimo. Impossível entender-me com o homem sabido, conhecedor de Marat, Robespierrre, outros que me fugiam da memória e da língua. Essas personagens me acovardavam. E o proprietário delas guardava-as com certeza ciumento, não deixaria mãos bisonhas manchá-las de suor. Afirmei, repeti mentalmente que não me avizinharia de Jerônimo Barreto.

Dirigi-me à casa, subi a calçada, retardei o passo, como de costume, diante das procurações e públicas-formas. E bati à porta. Um minuto depois estava na sala, explicando meu infortúnio, solicitando o empréstimo de uma daquelas maravilhas. Mais tarde me assombrou o arranco de energia, que em horas de tormento se reproduziu. Como veio semelhante desígnio? De fato não houve desígnio. Foi uma inexplicável desaparição da timidez, quase a desapariição de mim mesmo. Expressei-me claro, exibi os gadanhos limpos, assegurei que não dobraria as folhas, não as estragaria com saliva. Jerônimo abriu a estante, entregou-me sorrrindo o Guarani, convidou-me a voltar, franqueou-me as coleções todas.

12 julho 2007

09 julho 2007

As teorias da identidade (I)

O ser humano não se diferencia de outros animais simplesmente porque pensa, mas sim porque é capaz de pensar sobre o próprio pensamento. Tampouco se diferencia por ter uma consciência de si mesmo, pois já está provado que os primatas superiores (como os chimpanzés) também a têm. O ser humano se diferencia por ter consciência da própria consciência! Assim, somente nós podemos, além de saber quem somos, nos perguntarmos, “mas afinal, o que é o Eu?”
A maioria das pessoas é capaz de se perguntar “quem sou eu?”, ou seja, quais as minhas características, quais os atributos de minha identidade que me fazem semelhante ou diverso de outras pessoas? Entretanto, a pergunta “o que é o Eu?” não costuma ocupar as mentes de grandes parcelas da humanidade. Se nos detivermos sobre esta pergunta, talvez sequer saibamos dizer se o Eu (com maiúscula para diferenciar o substantivo do pronome pessoal) é um substantivo concreto (como uma “pessoa”) ou abstrato (como o “egoísmo”). O Eu não é nem bem uma coisa nem outra, mas o que os filósofos e lingüistas chamam de “constructo”, algo que existe na teoria e que pode ser percebido experimentalmente, mas não tem uma existência concreta, como o centro de gravidade ou a força magnética. É este Eu que em inglês se chama the self; em francês moi-même, assim como, em português, podemos denominar de o “si-mesmo”.

Voltando à pergunta sobre a natureza do Eu, apesar de ocupar poucas mentes, ela está no centro das preocupações filosóficas desde, pelo menos, os tempos de Sócrates. Ele é tido como o primeiro filósofo a pensar sobre a condição de “indivíduo”, como aquele que deve ser responsável pelas próprias escolhas morais.
É bem verdade que perguntas como “quem sou eu?” são o ponto de partida das reflexões filosóficas sobre a natureza da identidade. Tomemos, por exemplo, a definição de self (Eu) segundo o dicionário Webster´s (uma espécie de Aurélio norte-americano): “é a pessoa integral de um indivíduo; o caráter ou comportamento típico de um indivíduo (como quando se diz “o seu verdadeiro Eu foi revelado”); um comportamento ou caráter temporário do indivíduo (como quando se diz “ele mostrou o melhor de si-mesmo”); a união de elementos (como corpo, emoções, pensamentos e sensações) que constituem a individualidade ou a identidade de um pessoa”.
Quantas indagações surgem desta simples – e aparentemente tão clara – definição! Perguntas que não nos fazemos normalmente, mas que os teóricos da mente (filósofos, cientistas sociais, psicólogos, etc.) se fazem. Em primeiro lugar, dizer que é a pessoa total do in-divíduo significa, pela etimologia da palavra, dizer que o Eu é indivisível, ou seja, que cada pessoa é uma só e, por dedução, sempre a mesma! Sabemos muito bem que tal conceito de pessoa é problemático. Não apenas nossa experiência pessoal nos permite perceber, como as teorias contemporâneas sobre a identidade nos confirmam, que somos ao mesmo tempo um e muitos “Eus”. O meu Eu de professor pode ser bastante diverso do meu Eu de terapeuta, que por sua vez difere substancialmente do Eu familiar, embora todos tenham um núcleo em comum.
Um segundo sinônimo, que por motivos práticos eu utilizei inclusive no título deste artigo, é “identidade”. Bem, novamente aqui devemos recorrer a etimologia da palavra, que vem do étimo latino idem, ou seja, “o mesmo”. Mas, será que nosso Eu é sempre o mesmo, no sentido de ser sempre igual? Já assinalei no parágrafo anterior que esta idéia precisa ser colocada em perspectiva. Somos a um só tempo diferentes (tanto em situações diversas no mesmo tempo, quanto ao longo de nossas vidas, na medida em que passamos por diferentes idades). Antes de ser una e constante, a nossa identidade é dinâmica e multifacetada (aqui há uma contradição de termos, mas não podemos fugir ao uso corrente das palavras). A questão que se coloca para a psicologia é saber em que medida o sujeito se mantém o mesmo, e tem uma vivência suficientemente forte do que constitui o si-mesmo, apesar da passagem do tempo e das mudanças contextuais.
Os antropólogos nos informam que se desconhece qualquer cultura humana que não tenha um termo para designar o Eu, ou pelo menos uma noção abstrata de identidade. Apesar disto, as maneiras como a identidade é pensada ao longo do tempo e através das culturas varia grandemente. Essa noção de Eu como algo indivisível, coeso e permanente é apenas uma delas, e tem sido a maneira predominante na cultura ocidental da qual fazemos parte. Este ponto de vista deve muito aos pensadores da modernidade, que retomaram as reflexões dos filósofos clássicos após o término da Idade Média. Mas isto é assunto para o próximo mês.

Artigo publicado também no Floripa Total.

07 julho 2007

Reforma ortográfica

Está para entrar em vigor a unificação da Língua Portuguesa que prevê, entre outras coisas, um alfabeto de 26 letras.

"A frequência com que eles leem no voo é heroica!".

Ao que tudo indica, a frase inicial desse texto possui pelo menos quatro erros de ortografia. Mas até o final do ano, quando deve entrar em vigor o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", ela estará corretíssima. Os países-irmãos Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste terão, enfim, uma única forma de escrever.

As mudanças só vão acontecer porque três dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram as regras gramaticais do documento proposto em 1990. Brasil e Cabo Verde já haviam assinado o acordo e esperavam a terceira adesão, que veio no final do ano passado, em novembro, por São Tomé e Príncipe.

Tão logo as regras sejam incorporadas ao idioma, inicia-se o período de transição no qual ministérios da educação, associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos recebam as novas regras ortográficas e possam, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros.

Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.

As novas normas ortográficas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido". Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".

Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças que, a priori, parecem estranhas. As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiro terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".

Também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem"..

O trema desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.

O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y" e o acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).

Outras duas mudanças: criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos", além da eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".

A escrita padronizada para todos os usuários do português foi um estandarte de Antônio Houaiss, um dos grandes homens de letras do Brasil contemporâneo, falecido em março de 1999. O filólogo considerava importante que todos os países lusófonos tivessem uma mesma ortografia. No seu livro "Sugestões para uma política da língua", Antônio Houaiss defendia a essência de embasamentos comuns na variedade do português falado no Brasil e em Portugal.

(Texto recebido via e-mail)

08 junho 2007

women in art


Para quem passar por aqui, um presente: clique na imagem!

A trilha sonora é uma das seis suites para violoncello sollo, de Bach!!!


detalhe de PRIMAVERA, de Botticelli

30 maio 2007

O futuro hoje

(Trecho de um diário escrito para meu filho, quando ainda estava em gestação, com data de 08/09/96. Dez anos depois, vejo se concretizarem as previsões de então)

[...] E veja só o que diz o antropólogo Claude Lévi-Strauss, hoje com 88 anos de idade, sobre os impactos da informática e da Internet na vida das pessoas, em entrevista à Folha:
Folha - A sociedade está cada vez mais marcada pelo computador e a Internet. Em breve, entraremos no terceiro milênio, no seio de uma civilização que vai prescindindo cada vez mais das relações tal como as conhecemos. O que os cientistas sociais vão se tornar?
Lévi-Strauss - Ouça, serão outros seres humanos. Será uma outra "raça" de homens. É muito difícil para mim julgar como será. Eu não me aproximo de um computador e uso ainda uma máquina de escrever mecânica. Mas virão outros homens que saberão pensar com esses instrumentos, com um pensamento absolutamente distinto do nosso, atual. Seria talvez absurdo fazer-se uma previsão com uma certeza de cálculo, mas certamente isso tudo não apresentará nenhum relação com o que conhecemos no presente.

Você fará parte dessa nova “raça” de seres humanos que aprenderá o idioma da informática como uma língua materna. Nós, assim como imigrantes adultos, tentamos arduamente nos alfabetizar, e jamais falaremos essa língua sem um forte “sotaque”. Tentamos nos apropriar dessa linguagem, mas talvez nossa sintaxe jamais deixe de ser completamente aquela das máquinas de escrever mecânicas. Não é sem razão que lhe contei que para nós o computador ainda é em grande medida uma máquina de escrever (e de calcular) mais moderna. Para você, será muito mais do que isto. Será um modo de pensar, de processar idéias, de representar o mundo...
Há sempre os profetas do caos, os porta-vozes do pessimismo, para quem a Internet não passa de um instrumento de alienação das pessoas, de isolamento, de empobrecimento das relações interpessoais, etc., etc., etc.. (por enquanto menos de 1% da população mundial tem acesso à Internet. É muito cedo para se fazer previsões). Esse risco existe, sim. Espero ser capaz de ajudá-lo(a) a escapar a ele, e a fazer dos recursos tecnológicos de que você disporá caminhos para seu enriquecimento pessoal. Não será uma tarefa fácil...


25 maio 2007

bico de pena


Desenho feito com caneta hidrográfica sobre papel, em 1974


24 maio 2007

Site Poliglota

Muito interessante este SitePal. Você digita uma palavra e escolhe o idioma em que quer ouví-la. Pode ser o idioma original ou, se quiser ouvir a palavra dita com sotaque, pode pedir para ouví-la num outro idioma.


07 maio 2007

Solitudine






Seleção de fotografias encontradas na www.

04 maio 2007

Cannabis


Outra notícia recebida da LBP:

Embora a maconha possa produzir sintomas psicóticos, os cientistas acham que eles são causados principalmente por um de seus componentes. Outro, pelo contrário, amortece os seus efeitos e tem potencial terapêutico.
Veículo: Ambiente Brasil, PR

Uma substância contida na maconha pode ser utilizada no tratamento da esquizofrenia, com a vantagem de provocar menos efeitos secundários que as drogas antipsicóticas existentes atualmente, segundo um novo estudo. Embora a maconha possa produzir sintomas psicóticos, os cientistas acham que eles são causados principalmente por um de seus componentes. Outro, pelo contrário, amortece os seus efeitos e tem potencial terapêutico.A descoberta será anunciada nesta terça-feira em uma conferência internacional sobre a droga e a doença mental, em Londres, segundo o jornal "The Times". O estudo pode explicar o aumento registrado dos casos de psicoses e esquizofrenia devido ao consumo do entorpecente. Os níveis de tetrahidrocanabidiol (THC), principal princípio ativo da planta, que pode produzir psicoses, foram altos nos pacientes. Já o canabidiol (CBD), que, pelo contrário, tem efeitos benéficos, foi pouco encontrado. Isto pode significar que consumidores da droga estão sendo expostos a doses mais elevadas do componente nocivo e menos do outro. "Na ´cannabis´ podem haver bons e maus compostos. O mau é o THC. Mas há estudos que indicam que o CBD pode prevenir os sintomas psicóticos, como mostra nosso próprio estudo", afirma Markus Leweke, da universidade alemã de Colônia. Leweke, que apresenta seu relatório no Instituto de Psiquiatria de Londres, estudou o efeito do CBD em 42 pacientes com esquizofrenia aguda. Um grupo recebeu CBD, enquanto outro foi tratado com um antipsicótico de referência, o amisulpride. Após o tratamento, os dois grupos mostraram menos sintomas. Mas o primeiro experimentou também menos efeitos colaterais. Ainda não há estatísticas oficiais, mas cada vez mais provas indicam que a maconha pode induzir psicoses e esquizofrenia. Segundo os cientistas, há evidências de que um número crescente de jovens desenvolve esquizofrenia em conseqüência do consumo da droga. Dois trabalhos apresentados à conferência trazem novas provas da vinculação entre THC e psicoses. Philip McGuire e Zerrin Atakan, do Instituto de Psiquiatria, utilizaram imagens de ressonância magnética funcional para escanear o cérebro dos pacientes que receberam THC. Os cientistas descobriram uma redução da atividade numa área do cérebro onde se inibem normalmente os comportamentos inapropriados. Assim, os pacientes ficavam mais paranóicos. Outro estudo, de Deepak Cyril D´ Souza, da Universidade de Yale (EUA), chegou à conclusão de que o THC piorou os sintomas dos esquizofrênicos.



02 maio 2007

ATENÇÃO

VOCÊ ESTÁ DEIXANDO
BERLIM OCIDENTAL


Diante do Portão de Brandenburg, em maio de 1987, há exatos 20 anos, e dois anos antes da queda do muro.


30 abril 2007

Polyphrenia


Jean Houston coined the phrase "polyphrenia" to describe a high-functioning, multi-leveled consciousness that is well-organized and synergistic within its levels. At my best I am a community of awarenesses, each patiently (and urgently) waiting for its turn to express something.

Criei o nome do site a partir do neologismo multiphrenia, de autoria de Kenneth Gergen, e que tem o mesmo significado de polyphrenia. A mudança se deu por conta da coerência etimológica, uma vez que multi provem do latim, e poli do grego, assim como phrenus. Assim, o sentido de polyphrenia é o de uma mente múltipla, tal como, muito tempo depois, descobri em algum lugar da net, a palavra atribuída a outra pessoa (ver citação acima). As idéias são como anjos, dizia García Marquez, estão voando por aí...

28 abril 2007

Yourcenar



Nada me define: meus vícios e minhas virtudes são insuficientes para tanto; minha felicidade talvez o faça melhor, embora por intervalos, sem continuidade e, sobretudo, sem motivo aceitável. O espírito humano, porém, reluta em se aceitar como obra do acaso e a não ser senão o produto fortuito do imprevisto, ao qual nenhum deus preside, nem mesmo ele próprio.

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano


27 abril 2007

Pessoa

Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo
Seja eu os meus pedaços
Impreciso e diverso

FERNANDO PESSOA


Retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros.


26 abril 2007

sempre Rosa

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.
JOÃO GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão: Veredas

Rosa, descobrindo veredas, em foto publicada no site do Projeto Manuelzão, que vale a pena ser visitado.

mais Rosa aqui e aqui


24 abril 2007

Ken chan



Fotos de meu amigo Ken Kobashi


Sobre linhas & redes

Ainda a propósito do tema tratado no post abaixo: publiquei na edição 11 do jornal Floripa Total (link ao lado), em novembro de 2005, um texto no qual já antecipava algumas idéias (ou pelo menos, alguns pressupostos) que viria a encontrar nos dois livros que resenho no post anterior. Considerei interessante reproduzir aqui o artigo, para quem se interessar mais sobre o tema:

Vivem me perguntando: “qual é a sua linha?” Aliás, esta é uma pergunta que os psiquiatras e psicólogos têm de responder o tempo todo. Há que se ter uma linha, fazer parte de uma escola, nem que seja pra ter uma resposta para os curiosos... Na verdade, vulgarizou-se o conceito de que existem diferentes abordagens terapêuticas, e que algumas são inclusive incompatíveis entre si. Os freudianos não são junguianos, e estes não são lacanianos, que por sua vez não gostam dos kleinianos, e nenhum destes haveria de gostar dos cognitivistas que, podem até se entender com os sistêmicos, mas se dão melhor ainda com os psiquiatras, e não sei mais o quê...
Vou aproveitar esta oportunidade pra esclarecer duas coisas: a primeira é que sou filho (e trago isto no nome) de meus pais, e isto já me basta! Portanto, não esperem me ver afiliado a qualquer outra coisa, como partidos políticos, igrejas, ou outras organizações que requeiram comprometimento com dogmas teóricos ou ideológicos. A segunda, que é conseqüência do que acabo de dizer, é que não tenho “linha”! Eu prefiro andar fora da linha mesmo... (salvo, é importante que se ressalve, a linha da conduta ética e do respeito ao próximo).
Na verdade, dizer-se freudiano ou gestáltico pouco informa a quem pergunta. As diferenças, para quem vê de fora, são às vezes tão sutis que pouca ou nenhuma diferença fazem. Até porque praticamente não há como ser psicoterapeuta sem ser “freudiano”, uma vez que foi Freud quem pela primeira deu um arcabouço teórico e forneceu uma sistematização técnica para a psicoterapia. Assim, quer queiramos – ou saibamos – ou não, somos todos freudianos! O que existe de fato são diferentes formações pelas quais cada terapeuta passa.
Eu, por exemplo, além de ser psiquiatra e especialista em saúde pública, fiz uma formação em psicoterapia de orientação psicanalítica, e depois outra, em terapia familiar sistêmica. Junte-se a isto um mestrado em psicologia e um doutorado em ciências humanas, e você talvez tenha (apenas) alguns indicadores do tipo de psicoterapia que eu pratico. E assim é com todo mundo! O que existe mesmo, nada mais é do que “a psicoterapia que cada um pratica”.
Ao invés de linhas, eu prefiro pensar em redes. O conceito de rede está mesmo em voga, já que se diz que estamos vivendo numa sociedade de redes, que as organizações verticais dão lugar às organizações em rede, e que o fenômeno cultural – de amplas implicações econômicas – de maior importância na nossa era é a Internet: a rede mundial de computadores. Pois eu prefiro pensar que a terapia que faço é um terapia de rede: uma rede tecida com todas as linhas (psicológicas, ideológicas, científicas, etc.) que influenciaram a minha formação pessoal e a minha experiência profissional.
Faço terapia de rede também porque só consigo pensar as pessoas em seus contextos de relação, no interior de suas redes sociais. Isto pode ou não significar a inclusão de outras pessoas em algum momento de uma terapia individual, ou mesmo sugerir uma terapia de casal ou família. Cada terapia é um encontro único, entre o psicoterapeuta e uma pessoa com história, personalidade, necessidades e recursos diferentes.
Desde que o profissional tenha um bom treinamento e alguma experiência, ele haverá de identificar quais são os limites e as possibilidades de cada caso, e em cada momento de uma mesma terapia, e a melhor estratégia terapêutica. É a estratégia terapêutica que nos vai sugerir variações quanto ao número de sessões; quanto à atitude do terapeuta, no sentido de ser mais ou menos ativo; quanto a ser uma terapia mais ou menos diretiva, mais centrada no apoio, no esclarecimento e na orientação, ou, por outro lado, mais voltada ao descobrimento interior (o insight) por parte do próprio paciente, com o terapeuta “apenas” tendo a função de ser um formulador de boas perguntas...
O ser humano é por demais complexo para que uma única “linha”, ou seja, um único modelo, dê conta de abarcar todos os aspectos da vida mental e emocional. Por outro lado, é claro que não se pode aspirar a resolver tudo ao mesmo tempo: isto seria onipotência do terapeuta. O ideal é que, estando bem alicerçado no seu treinamento e em sua experiência profissional, o terapeuta possa combinar os recursos necessários para a compreensão dos dinamismos internos (em geral inconscientes); dos jogos relacionais (especialmente daqueles que ocorrem no contexto familiar); dos aprendizados e das respostas automáticas, muitas vezes disfuncionais; das forças da cultura (no sentido daquilo que é ou deixa de ser normal em cada diferente meio social); assim como das predisposições genéticas e constitucionais de cada indivíduo.
Não parece pouco... e tampouco é!!! Portanto, quando estiver procurando um psicoterapeuta, mais importante do que saber qual a linha, tente descobrir quem é ele, qual a sua formação profissional, como foram as experiências de outros pacientes. É só assim que você vai encontrar – e nem sempre é da primeira vez – alguém cuja terapia seja aquela que você está precisando. Boa sorte!

post correlato sobre interdisciplinaridade

23 abril 2007

Para terapeutas e pacientes


Dois excelentes livros sobre psicoterapia chegaram ao mercado editorial brasileiro no ano passado. Ambos foram escritos numa linguagem acessível tanto a especialistas quanto a leigos. Assim, são uma boa maneira de se iniciar nos mistérios da atividade psicoterápica, ou de fazer uma idéia melhor do que ela seja, antes de se aventurar como paciente. Para os terapeutas iniciantes, estes livros são uma boa oportunidade de conhecer os segredos de profissionais experientes, e para os mais experientes, uma boa oportunidade de repensar suas próprias práticas.

Irvin Yalom é o autor dos best-sellers Quando Nietzche chorou e A cura de Shopenhauer. Experiente psiquiatra e psicanalista, tem como característica a flexibilidade nas suas atitudes, e atribui enorme importância à contra-transferência, ou seja, ao adequado uso dos sentimentos e das intuições que o paciente desperta no terapeuta. Ele não teme revelar - com o devido cuidado - aspectos de sua vida, quando considera que isto possa ser útil, e sobretudo seus estados afetivos provocados pelas atitudes dos pacientes, permitindo a investigação no "aqui-e-agora" da sessão, de padrões que se repetem nas interações dos pacientes em sua vida "lá fora". Neste Os desafios da terapia, Yalom discorre, com elegância e sem se valer em nenhum momento dos jargões profissionais, vários outros aspectos do encontro terapêutico, como as peculiaridades de lidar com determinados temas (a morte, por exemplo), e a maneira de comunicar as próprias impressões aos pacientes. Para tanto, ele ilustra a discussão com vinhetas de casos clínicos extraídos de sua experiência como terapeuta e supervisor de outros terapeutas.

Os porcos-espinhos de Schopenhauer foi escrito por Deborah Luepnitz, também uma professora de psiquiatria e psicoterapia norte-americana. O curioso título remete a uma fábula do filósofo alemão, conhecida e mencionada por Freud, que relata o dilema de um grupo de porcos-espinhos num dia frio de inverno, entre se aproximarem para não congelar, e se afastarem para evitar os espinhos. Uma vez que este dilema é o mesmo vivido por muitas pessoas, a autora parte dele para fazer o relato bastante detalhado de cinco histórias de terapia. São cinco casos clínicos, dentre os quais uma terapia de casal, uma de família e três individuais, através dos quais Luepnitz ilustra as bases teóricas já expostas em linhas gerais na introdução.

O que há em comum entre Yalom e Luepnitz (além, é claro, do óbvio interesse por Schopenhauer) é a atitude frente ao conhecimento e ao paciente. Ambos comungam da visão do psicanalista francês Serge Laclaire de que "a psicanálise tem que ser reinventada para cada paciente". E ambos parecem claramente cientes de que nenhum conhecimento isoladamente pode dar conta da complexidade da condição humana. A conseqüência desta premissa é de que o caminho para acessar a subjetividade de cada pessoa pode ser diferente, ou então, de que vários caminhos podem ser igualmente úteis.

Muito antes desses dois autores, o terapeuta argentino Hector Fiorini - igualmente de formação psicanalítica - já dizia que, entre os eixos de construção de um psicoterapeuta, deve estar a experiência com várias técnicas terapêuticas. É como se observar um objeto de um só ângulo, ou de vários. Você pode preferir uma determinada perspectiva, mas ter em mente as demais amplia grandemente a apreciação do seu objeto. Yalom sugere a complementação da terapia individual com a terapia de grupo, além de ter vivenciado ele próprio, como confessa, experiências terapêuticas de vários matizes teóricos. Luepnitz, por exemplo, é capaz de articular as contribuições de psicanalistas de escolas diferentes, como Winnicott e Lacan, e, mais do que isto, a compreensão psicanalítica (o que acontece na pessoa, no intrapsíquico, ou seja, no "interior" da mente) com a abordagem sistêmica, familiar (o que acontece entre as pessoas e, principalmente, nos grupos familiares).

O que há em comum entre Yalom e Luepnitz é a busca por compreender o que acontece sob diferentes perspectivas, e por fazer opções particulares, frente a cada situação. As razões para essas opoções, e os seus resultados, esses autores tiveram a coragem de expor nesses dois intrigantes livros.


20 abril 2007

19 abril 2007

A ciência do papa

Na falta de mais tempo e criatividade para escrever, reproduzo aqui o artigo que encontrei no blog do MaGenCo, sobre recentes declarações do ilustre papa, em vias de chegar nas bandas de cá, onde consegue fazer tanto sucesso, apesar de sua absoluta falta de carisma...


O papa no traço de Baptistão
UMA ROUPINHA MELHOR PRO PAPA

Ora, ora, temos que Sua Santidade escreve um livro por nome Jesus de Nazaré, afirmando que a evolução não pode, em certos aspectos e momentos, ser provada em laboratório (verdade que Jesus de Nazaré, que empresta o nome à obra, tampouco o pode - e em momento ou aspecto algum).
A conclusão, creio, seria de que, em não sendo provado o evolucionismo, restaria automaticamente provado o criacionismo, usando-se a chamada prova negativa, ou ilação inversa. Seja: em não se provando a existência dos canhotos, prova-se, ipso facto, a existência dos ornitorrincos. "Ora, mas sendo assim, vale tudo, e podemos, sem prejuízo, entregar nossas inteligências aos bons cuidados dos nossos vasos sanitários".
Existência não se prova através de não, mas através de sim. Há, na comprovação do evolucionismo, um corpo suficientemente robusto de "sim" para que, sem violação ao implacável rigor do método científico, seja heuristicamente lícito preencherem-se algumas pequenas e eventuais lacunas através da ilação. Ou, no mínimo, construírem-se a respeito teses epistemologicamente consistentes, à espera de comprovação, ou revisão.
Onde nada disso há é no sistema de crenças do Papa, 100% baseado na Fé, e não nos laboratórios — que reduzem a pó de traque praticamente tudo o que na Bíblia se afirma.
A Fé é, sim, respeitável. A Ciência é, sim, respeitável. A inteligência do sapiens, e o pensamento que dela emana, é sim, respeitável. O Homem é respeitável.
O que Sua Santidade podia fazer, para o bem de todos e a respeitabilidade geral da espécie, era parar de ficar pagando mico na TV, falando besteira à toa, sem sequer ter sido provocado. Também podia arrumar umas roupas mais decentes (quem sabe um outro Grande Líder Religioso emprestava-lhe umas gravatas...), que aquele longo de Mamãe Noel realmente não tá com muita coisa.
Se avexe, homem, ou, como se diz na Bahia, "se assunte!".

Marco Antonio Arantes, Doctor Eclesiae

16 abril 2007

kurosawa



Estou devendo há muito tempo um post sobre o cineasta Akira Kurosawa, um de meus preferidos. Uma visita ao blog Kerala Articles (links abaixo) me impulsionou a fazê-lo agora, já que, nesta data, há nele um excelente post sobre o épico Kagemusha.
Este filme, que foi co-produzido por Francis Coppola e George Lucas, é um dos clássicos do cineasta japonês falecido em 1998, e realizador, entre outros, de Os Sete Samurais, Derzu Uzala, Ran e Sonhos.

Kagemusha conta a história de um ladrão condenado à morte, que se salva graças à enorme semelhança com o líder do clan Takeda, Shingen. Assim que este falece, o ladrão toma a lugar do comandante, e daí vem o título Kagemusha (em japonês: dublê ou sombra).
Este filme serviu de preparação para outro épico, Ran, que igualmente trata da guerra e das disputas entre clãs no Japão medieval, no qual Kurosawa fez uma adapatação da tragédia do Rei Lear, de Shakespeare.

Tanto em Kagemusha quanto em Ran o genial diretor japonês, que costumava desenhar previamente todas as cenas em detalhes, deixa à mostra a densidade poética de sua obra, valendo-se de interpolações de fantasias e realidade, cores abundantes e uma reconstituição primorosa de cenários e vestuários. As cenas de guerra merecem uma atenção especial.

mais sobre kagemusha

mais sobre ran

Tangos 2


Dois gênios do tango, no traço de Sócrates (cartões postais).

Tangos 1


Clique aqui para ir ao blog do João David e ouvir cinco interpretações de tango do guitarrista argentino Juango Dominguez.

14 abril 2007

Krishnamurti



Desenho feito com lápis sobre papel, de 1974. Trata-se do retrato de Krishnamurti, feito a partir de uma foto do filósofo quando jovem. Estive interessado em suas idéias quando era ainda adolescente. Abaixo, algumas informações sobre ele:

Jiddu Krishnamurti nasceu na Índia em 1895, e a partir dos treze anos de idade passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava o veículo para o "Instrutor do Mundo", cujo advento proclamavam. Krishnamurti logo emergiu como um poderoso, descompromissado e inclassificável instrutor, cujas palestras e escritos não estavam vinculadas a nenhuma religião específica, não sendo do Oriente nem do Ocidente, mas para o mundo todo. Repudiando com firmeza a imagem messiânica, em 1929 dissolveu dramaticamente a grande e rica organização que havia sido criada à sua volta, e declarou ser a verdade "uma terra sem caminhos", à qual nenhuma religião formalizada, filosofia ou seita daria acesso. (mais)


JAZZ


Depoimento de Cassandra Wilson, jazz singer, no último episódio da série JAZZ, realizada por Ken Burns. Trata-se de um EXCELENTE documentário sobre a história do jazz, de seus primordios até os dias atuais. A série, em doze episódios, foi apresentada no canal GNT, e deu origem a um DVD duplo, da Som Livre. Aqui, Cassandra Wilson presta um tributo às gerações anteriores.

I believe that you can communicate tragedy by learning the lesson from someone else's tragedy. I think that's the whole point. From these people who have already done this for us, our predecessors: they've lived this life, they've done the drugs, they've done all these things. And I think the point of it is that we now benefit from that, and we sat on their shoulders. And we have the responsability of extending the music, we have the responsability of pushing the music into the 21st. century.


30 março 2007

photo


Serra do Corvo Branco, Urubici, Santa Catarina. Foto de julho de 2005.

26 março 2007

O médico e a familia do paciente


Segmento do capítulo "O médico e a familia do paciente", publicado no livro Psiquiatria para estudantes de Medicina (referência ao final).

Andolfi (1996) afirma que "com a passagem para uma visão mais complexa das relações interpessoais, o modelo diádico não é mais suficiente, pois não dá conta do vasto sistema dentro do qual uma relação entre duas pessoas se desenvolve" (p. 30). Baseados nesta idéia, podemos dizer que a relação entre o médico e o paciente só pode ser observada e entendida se os contextos mais amplos em que ela ocorre forem levados em conta. Um deles é o serviço de saúde (hospital, ambulatório, clínica, consultório particular). Outro é família do paciente, com a qual se estabelece triangulação que pode ser definida pelos termos médico-paciente-família. De fato, dificilmente pode entender os processos de construção e manutenção da doença, sem levar em conta o contexto familiar do paciente. Da mesma forma, a família pode ser um contexto de cura, de potencialização de recursos terapêuticos (Cataldo e cols. [199?]; Soar Filho, 1998).

É desta unidade de observação que nos ocuparemos agora, discutindo as possíveis ressonânncias entre a história pessoal do médico e as histórias e configurações familiares de seus pacientes. O médico pode vir a ter uma relação tão intensa com a família do paciente (como nos casos de um politraumatismo grave com internação em UTI), e/ou tão prolongada (como nas enfermidades psiquiátricas e nas doenças crônicas em geral), que se pode afirmar que passa a formar, com ela, um sistema maior, que chamaremos, seguindo um modelo das terapias sistêmicas, de sistema terapêutico. Assim, ele fica sujeito a ser "absorvido" pelo sistema familiar, e a ocupar determinaadas funções que podem servir tanto à doença quanto à cura.



A história de vida do médico e, especialmente das relações com sua família de origem, pode ter uma grande influência sobre sua prática profisssional, tanto no sentido de prejudicar quanto de facilitar seu manejo de determinadas situações (daí a conveniência de que em algum momento de sua formação passe pela experiência de terapia pesssoal). Se o médico vivenciou, por exemplo, a morte de sua mãe por câncer, e na época sua família manteve segredo em torno do diagnóstico, não o revelando para "proteger" a mãe (geralmente o doente sabe de sua condição melhor que os familiares possam imaginar), ele pode vir a ter arreependimentos ou ressentimentos por não ter perrmitido que ela se preparasse para a morte, se despedisse devidamente da família, ou porque ele mesmo não lhe disse tudo o que gostaria de dizer. Tal situação pode, se não estiver devidamente elaborada, levá-lo a uma excessiva identificação com os familiares que passam por situações semelhanntes, gerando-lhe ansiedade e desconforto. Por outro lado, se tiver a oportunidade de aprender com sua vivência, poderá desenvolver uma maior empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro), e sentir-se mais apto a ajudar as famílias de seus pacientes (Zimerman, 1992).

Pode ocorrer, também, que na família do paciente existam pessoas que lembram o médico de seus próprios parentes (e geralmente isto ocorre de forma inconsciente), como um pai autoritário, uma mãe depressiva, ou um irmão competitivo, gerando os sentimentos desagradáveis, Também pode ocorrer o contrário, que o médico venha a sentir desejo de proximidade, amor, ou aprovação em relação à família. Estas reações são denominadas, na teoria psicanalítica, de constratransferência, e a sua devida compreensão pode se tornar uma ferramenta para que o médico entenda melhor a si mesmo e à família.

Além das experiências pessoais do médico, existem aspectos de sua personalidade que podem dificultar o relacionamento tanto com o paciente individualmente, quanto com a família. Um médiico demasiadamente narcisista (que tem um senso de auto-estima demasiadamente frágil e dependente da aprovação dos outros) pode ter dificuldades em lidar com críticas, comportamentos de oposição à sua autoridade, e com toda uma gama de sentimentos que a família pode depositar nele, (frustração, raiva, impotência, medo ... ). Ele será visto pela família, em algum momento, como um “representante" do universo da doença e dos serviços de saúde (e, neste caso, muitas vezes as queixas são justificadas e realistas), e cabe ao profissional ter suficientemente continência (capacidade de entender e tolerar tais sentimentos, sem revidá-los).
Há situações em que, por mais que o paciente esteja orientado, não segue as orientações médicas. Afastadas outras causas, como as dificuldades financeiras, o médico deve investigar o ganho secundário da doença: as vantagens ou benefícios obtidos através dos sintomas, de exames, ou da condição de enfermo. São relativamente freqüenntes os casos de pessoas que, em função de seus problemas de saúde, passam a deter um enorme poder no interior do sistema familiar, mantendo com isso privilégios pessoais. O ganho secundário pode ter uma função comunicativa, quando a persistência do sintoma ou o boicote ao tratamento servem para expressar sentimentos de raiva, por exemplo, em relação ao marido, ao patrão, ou ao próprio médico ou serviço de saúde. Outras veezes, a doença pode servir para manter a estabilidade do sistema familiar, como já mencionamos anteriormente (Cataldo Neto e cols., [199?]; Soar Filho, 1998),

Diante do alto nível de responsabilidade da profissão médica, o auto-exame é parte indispennsável de sua prática. A melhor garantia contra os impulsos prejudiciais à relação, que se tornam manifestos no comportamento, é a mais ampla conscientização, por parte do médico, de seus sentimentos, necessidades e conflitos.

Referência:

Soar Filho, E.J. (2003). O médico e a família do paciente. Em: A. Cataldo Neto; G.J.C. Gauer & N.R. Furtado (org.). Psiquiatria para estudantes de Medicina. Porto Alegre: edipucrs.


25 março 2007

photos


Campos de tulipas, Holanda, 1987.


23 março 2007

Em busca


Mas nem mesmo com referência às mais insignificantes coisas da vida somos nós um todo materialmente constituído, idêntico para toda a gente e de que que cada qual não tem mais do que tomar conhecimento, como se se tratatasse de um livro de contas ou de um testamento; nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio. Até o ato tão simples a que chamamos "ver uma pessoa conhecida" é em parte um ato intelectual. Enchemosa aparência física do ser que estamos vendo com todas as noções que temos a seu respeito; e, para o aspecto total que dele nos representamos, certamente contribuem essas noções com a maior parte.

Marcel Proust em No caminho de Swann.

Mais sobre Proust.

Mais sobre a construção social da identidade, em Pirandello.


Lagoa da Conceição

à beira das rendeiras
vejo o sol a pino
respingar estrelas
sobre a pele da lagoa.
duas velas acariciam
a pele macia da lagoa.
os montes se debruçam para beijar
a úmida pele da lagoa
e toco uma vez mais
com olhos ávidos
a suave pele morena da lagoa.

19 março 2007

Bico de pena


Caneta hidrográfica sobre papel. Desenho de 1983.


15 março 2007

The road to Escondido


A parceria entre JJ Cale e Eric Clapton é de longa data, e está marcada sobretudo pela gravação que este fez "Cocaine" na década de 70, canção escrita por Cale. O jeito tranquilo de Cale tocar e cantar também causou uma importante influência no estilo de Clapton. Não é sem razão que Cocaine é a música de abertura do DVD Crossroads: Guitar Festival (2005), gravado durante o enorme festival de blues que Clapton promoveu no Texas. Dele participa também JJ Cale, além de outros gigantes como BB King, Buddy Guy e Robert Cray.
Essa parceria é coroada agora com este CD, co-produzido por ambos. Quase todas as quatorze faixas de The road to Escondido são composições de JJ Cale, que aparece em primeiro plano nas interpretações. Clapton, desta vez, participa reverentemente como segunda guitarra, faz alguns solos e vocais. A única composição de Eric Clapton (interpretada por ele), Three Little Girls, não deixa dúvidas da autoria: uma canção para guitarra acústica ao estilo de Tears in Heaven. As músicas vão de baladas com sotaque bem country, como a faixa cinco, Sporting Life Blues, até faixas francamente blue-grass, como a seguinte, Dead End Road. Neste álbum está a última participação de Billy Preston, antes de sua morte. Ele é o genial tecladista que dá um show no DVD One more car one more rider, do mesmo Eric Clapton.

No site da Amazon é possível ouvir uma palhinha de cada faixa.


Música para cozinhar













Oda al tomate
Pablo Neruda
Aqui magistralmente interpretada por Jorge Drexler no CD Eco2.

La calle se llenó de tomates.
Mediodía, verano,
la luz se parte en dos mitades de tomate,
corre por las calles el jugo.
En diciembre se desata el tomate,
invade las cocinas,
entra por los almuerzos,
se sienta reposado en los aparadores,
entre los vasos, las mantequilleras, los saleros azules.
Tiene luz propia, majestad benigna.
Debemos, por desgracia, asesinarlo:
se hunde el cuchillo en su pulpa viviente.
Es una roja víscera, un sol fresco, profundo, inagotable.
Llena las ensaladas de Chile,
se casa alegremente con la clara cebolla,
y para celebrarlo se deja caer aceite,
hijo esencial del olivo,
sobre sus hemisferios entreabiertos.
Agrega la pimienta su fragancia,
la sal su magnetismo:
son las bodas del día.
El perejil levanta banderines,
las papas hierven vigorosamente,
el asado golpea con su aroma en la puerta,
es hora! vamos!
Y sobre la mesa, en la cintura del verano,
el tomate, astro de tierra,
estrella repetida y fecunda,
nos muestra sus circunvoluciones, sus canales,
la insigne plenitud y la abundancia sin hueso, sin coraza, sin escamas ni espinas.
Nos entrega el regalo de su color fogoso
y la totalidad de su frescura.

08 março 2007

Dia Internacional da Mulher

A melhor forma de homenagear as mulheres e tentar entendê-las melhor!
Parabéns a todas vocês!!!

da genial cartunista argentina Maitena

07 março 2007

Interdisciplinaridade

Tenho um capítulo publicado no livro Paradigmas da Modernidade e sua Contestação, organizado por Franz Brüseke e Alan Serrano, com textos produzidos por alunos e professores do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC (Editora Insular, Florianópolis, 2006).
O capítulo leva o pomposo título de "Para uma concepção ecossistêmica e interdisciplinar do self". Nele, faço um breve apanhado das transformações pelas quais vem passando o paradigma da ciência (da ciência tradicional à contemporânea), o surgimento e as bases do pensamento sistêmico, e uma proposta de concepção interdisciplinar de self (ou seja, do "eu", da identidade ou da mente). A figura abaixo reproduz um dos diagramas que utilizo para ilustrar os vários aspectos complementares das teorias do self, os modelos aos quais eles correspondem (médico, psicodinâmico e interpessoal), e as formas de intervenção terapêuticas correspondentes. Este esquema permite pensar o self de maneira interdisciplinar, sob uma lógica que Edgar Morin denomina de "aditiva" (que agrega diferentes perspectivas), em oposição à lógica "disjuntiva" (que separa), com a qual opera a ciência tradicional. Abaixo, a transcrição de segmento do texto original no qual tento deixar claro como penso a interdisciplinaridade na clínica psiquiátrica.

Pensado em termos da clínica psiquiátrica, este modelo permite a compreensão de como os relatos dos problemas que nos são trazidos pelos clientes podem ser organizados de acordo com um ou mais dos modelos operativos do médico/terapeuta, dando origem a diferentes "histórias clínicas" e condutas terapêuticas. A partir de queixas genéricas tais como irritabilidade, tristeza, insatisfação crônica consigo mesmo, e brigas constantes com o cônjuge, abrem-se múltiplas possibilidades de investigação, organização e denominação dos problemas. Os "sintomas" (usar esta palavra já implica numa determinada opção epistemológica) podem ser definidos como "distimia" (um tipo particular de "transtorno de humor", conforme a Classificação Internacional de Doenças), o que conduz ao uso de medicamenntos antidepressivos. As mesmas queixas podem ser caracterizaadas como expressão de uma "estrutura narcísica de personalidade" (segundo uma psicopatologia psicanalítica), caso em que serão abordadas as falhas do desenvolvimento psicossexual do indivíduo, através de uma psicoterapia. Uma terceira possibilidade (e não a última delas) é a organização do relato centrada nos problemas da relação conjugal, na focalização das pautas de interação familiar e de retroalimentação das condutas (note-se que, no campo das terapias familiares, há uma tendência hegemônica ao abandono das nosografias - i.e., ao uso de diagnósticos -, tanto médicas quanto psicológicas), implicando esta opção numa correspondente proposta de intervenção na forma de terapia conjugal ou familiar.

Há problemas para os quais um paradigma pode ter se estabelecido como dominante, e impor-se sobre os demais. É o caso do "transtorno afetivo bipolar" ou das "esquizofrenias", para cuja compreensão e tratamento o modelo médico tem-se mostrado indispensável. O mesmo não se pode afirmar sobre os sintomas conversivos e os comportamentos histriônicos, que constituem um território pouco permeável ao modelo médico, e propício às abordagens psicodinâmicas. Por outro lado, a terapia familiar tem se mostrado especialmente útil no tratamento de problemas de conduta na infància e na adolescência, que via de regra respondem de forma pobre a outras modalidades terapêuticas isoladas, apenas para ficarmos no campo dos exemplos mais comuns.

O fundamental, na perspectiva que vimos construindo, é poder situar-se epistemologicamente em relação a esses modelos, compreendê-Ios como diferentes recortes da realidade, perceber suas virtualidades e limitações, e operá-Ios segundo os conhecimentos e treinamentos de cada um. Isto significa, tammbém, reconhecer a unidade e a complexidade do ser humano, ao mesmo tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico, caracterizado, como afirma Morin, por sua condição tripartite de um indivíduo que se situa entre a espécie e a sociedade.

05 março 2007

5 de março

Como antecipei aqui a proximidade de meu cinqüentenário, e como tenho recebido várias manifestações carinhosas a este respeito, quero assinalar a data de hoje. Agora sim, estou entrando na minha MAIORidade.
Nasci no ano de 1957, numa terça de Carnaval, e meu amigo Arthur me informa que só com 62, em 2019, o dia 5 será novamente terça de carnaval!
Busquei na net algum evento mais significativo que tivesse ocorrido nesta mesma data. Encontrei num site que celebra a paz no mundo (link) a notícia seguinte, e acho que é um bom marco para associar ao meu aniversário:

Entrada em vigor do Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares, 1970

O Tratado de não Proliferação das Armas Nucleares (NTP) é a pedra fundamental dos esforços internacionais para evitar a disseminação de armas nucleares e para viabilizar o uso pacífico de tecnologia nuclear da forma mais ampla possível. Aberto para assinatura em 1968, o Tratado entrou em vigor em 5 de Março de 1970. Entre 1968 e 2005, foram realizadas revisões periódicas do NPT, em 1975, 1980, 1985, 1990, 1995, 2000 e 2005. Em 1995, os Estados participantes concordaram em prolongar indefinidamente o NPT, como parte integrante de um conjunto de decisões que incluía o reforço do processo de revisão, e princípios e objectivos para a não-proliferação e desarmamento. 190 países ratificaram este tratado inclusive as cinco grandes potências nucleares e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França.

Para Julia

Em homenagem ao nascimento de minha sobrinha Julia, ocorrido hoje pela manhã, no mesmo dia de meu aniversário. Ela é, portanto, o maior presente que poderia receber, e deixo publicamente o meu carinho e os votos de felicidades ao meu irmão Rafael e à Doris, essa nova brava mãe.
Desenho de 1974, feito com caneta hidrográfica.

01 março 2007

(L)ula-lá!!!! De novo!

Ouvi na CBN que ontem, no apagar das luzes, a Câmara Federal aprovou nova medida provisória para a doação de mais vinte milhões de reais (veja notícia de uma doação anterior para o Paraguai aqui), desta vez para a Bolívia. A finalidade é contribuir para a solução de conflitos fundiários e a implantação da reforma agrária no nosso país vizinho, que, como todos sabemos, tanto apreço e consideração tem demonstrado pelo Brasil. Não bastasse a desmoralização a que fomos submetidos, o Lula ainda quer dar uma de bonzinho... Será que está sobrando dinheiro? Será que o povo brasileiro não está precisando de nada??? E a conta, nós é que pagamos!

Silje Nergaard

Meu amigo, blogueiro, e grande conhecedor de boa música, Aluizio Amorim, publicou em seu blog, e eu repasso pra vocês o comentário dele e o link para esta maravilhosa interpretação da cantora norueguesa Silje Nergaard (clique aqui).

É linda, simpática e tem uma voz cativante, meiga e afinadíssima. Notem a sofisticação e a delicadeza do arranjo. Silje transita do pop ao jazz. Destaco neste vídeo uma música muito bonita, We should be happier by now, num fantástico dueto que ela faz com o competente e veterano Al Jarreau. Este vídeo é uma versão intimista em estúdio. Vale a pena ouvir. Para visitar o site de Silje, clique aqui".

28 fevereiro 2007

Internet pode matar

Chinês viciado em Internet morre após maratona de jogos online

(Reuters) Qua, 28 Fev - 10h49
PEQUIM - Um jovem chinês obeso de 26 anos morreu após participar de uma maratona de jogos online durante o feriado do Ano Novo Lunar, divulgou a mídia estatal nesta quarta-feira.
O rapaz de 150 quilos, morador do noroeste da China, morreu no sábado, o último dia do feriado, depois de passar "a maior parte" das comemorações de sete dias jogando online, disseram seus pais, segundo o China Daily.
Xu Yan, uma professora local, afirma que a "vida aborrecida" durante o feriado faz com que muitas pessoas liguem os computadores para se divertirem.
"Há apenas duas opções. TV ou computador. O que mais eu posso fazer no feriado quando todos os mercados e cafés estão fechados?", disse Xu de acordo com o diário chinês.
A China tem apresentado um aumento alarmante no número de adolescentes e jovens adultos viciados em Internet nos últimos anos, apesar das tentativas de proibir a entrada de menores em cibercafés e limitar o tempo em jogos online.
Cerca de 2,6 milhões, ou 13 por cento, dos 20 milhões de usuários de Internet na China com menos de 18 anos são considerados viciados, informou a mídia estatal.

Seja você mesmo!

Artigo publicado originalmente na edição número 5 do Floripa Total, de fevereiro de 2005.

Você já dever ter ouvido aquela frase: “conhece-te a ti mesmo!” Pois é, ela estava escrita bem na entrada do oráculo de Delfos, na Grécia Antiga. Quem acabou levando os créditos desta sacada foi mesmo Sócrates, mas não sem alguma razão. Ele foi um dos primeiros a convidar os seus contemporâneos a refletir sobre a própria conduta, as próprias escolhas morais, e a buscar dentro de si a própria verdade. De lá pra cá, muita água já rolou, e essa idéia ficou como mais um projeto a ser realizado por nós...
Nas sociedades antigas, as pessoas tinham identidades que eram ditadas, muito mais do que hoje, pela inserção social ou a classe em que nasciam: escravos ou homens livres; servos da gleba ou senhores feudais; soldados, membros do clero ou da realeza... Ninguém parava pra pensar (ou pelo menos não temos registro disso) “o que eu quero ser?”, pois isto já estava em grande medida pré-determinado.
A primeira autobiografia introspectiva de que se tem notícia foi escrita por Santo Agostinho, lá pelo finalzinho do quarto século da era cristã. (Autobiografia introspectiva é um nome bonito pra “memórias”.) Em suas Confissões, ele escreveu: “chego aos campos e vastos palácios da memória... É lá que encontro a mim mesmo, e recordo das ações que fiz, o seu tempo, lugar, e até os sentimentos que me dominavam ao praticá-las...”
Mas nem todo mundo era um santo agostinho, e os mais comuns dos mortais teriam ainda muito que esperar até poderem se achar “gente”, com direitos e deveres individuais. Durante toda a Idade Média as pessoas tiveram ainda que rezar pela cartilha da Igreja, e só depois do Iluminismo europeu, já por volta do século XVIII, o ser humano ocidental passaria a se pensar como um “indivíduo”, com aspirações pessoais, capacidade de escolha e responsabilidades pelo seu destino.
Mais recentemente ainda, a idéia de ser um indivíduo deu lugar ao sentimento de “individualismo”. Demos o passo fatal da individualidade ao individualismo, e este está presente em todas as dimensões das relações cotidianas: na competição, na falta de cortesia, no desrespeito ao próximo, na destruição de recursos naturais que são de todos... Parece que nos esquecemos que nada somos sem referência aos outros, que tudo aquilo que nos define remete a outra pessoa, a uma família, a uma comunidade, a uma cultura... E, como fazemos parte de muitos grupos diferentes, somos também muitas pessoas diferentes numa única pessoa.
Assim, só posso ser “eu mesmo” se eu souber dizer pra quem eu sou, em que grupo estou inserido, em qual ambiente eu circulo. A sociedade contemporânea, como nunca antes na história da humanidade, tem ampliado as possibilidades de sermos muitos ao mesmo tempo, de darmos vazão a facetas e impulsos diversos de nossa personalidade. O psicólogo social norte-americano Kenneth Gergen diz que o sujeito contemporâneo é um “eu saturado”: saturado de informações, de modelos, de influências, de possibilidades latentes.
Da próxima vez que alguém lhe disser “seja você mesmo!”, pare pra pensar... Primeiro: em algum momento pode deixar de ser você mesmo? Não acredito. Mesmo que você queira se fazer passar por outra pessoa, agir de um jeito que não é o seu habitual, é ainda você... Segundo: há mesmo apenas um eu, ou, de fato, vários eus que se mostram mais ou menos diferentes em cada circunstância.
Isso me faz lembrar de um delicioso livro do italiano Luigi Pirandello, chamado Um, Nenhum e Cem Mil, no qual certo dia o sujeito se dá conta que tem um defeito no nariz que nunca havia notado antes. A partir daí, faz uma tortuosa viagem mental para chegar à conclusão de que “mesmo para si mesmo fulano tem tantas realidades quantos são os seus conhecidos, porque comigo ele se conhece de um modo e, com vocês e com terceiros, de outro, e assim por diante, embora permaneça a ilusão – especialmente nele – de ser um só para todos”.
É, a gente não tem mesmo como fugir de si mesmo, e, portanto, não tem como não ser “eu mesmo” o tempo todo, mesmo sendo, ao mesmo tempo, cem mil. O que a gente pode tentar é se conhecer melhor, conhecer essa multidão de eus que traz dentro de si, para que “eles” e “elas” possam se acomodar melhor, estar em paz; para que a gente saiba o que tem de melhor e o que tem de pior, e possa lançar mão disto quando preciso (de preferência, do que se tem de melhor!!!)

Luigi Pirandello, pintado por seu filho FAUSTO PIRANDELLO.